Chargista, quadrinista, ilustrador, Benett desenha há algum tempo e sua principal plataforma, pelo menos quando começou, era a internet. Talvez por isso ele publique no Blog do Benett, no Benett Blog e no Charges do Benett, além de ter duas páginas na Gazeta do Povo, a de Charges e a Salmonelas. Isso sem contar suas contas no Flickr, Twitter e Facebook.
Polivalente, ainda publica diariamente suas tirinhas na versão impressa da Gazeta do Povo, de Curitiba, e charges políticas na Folha de S. Paulo. Recentemente ilustrou o livro “Um operário em férias”, de Cristovão Tezza, que assina a quarta capa de seu próximo livro, com lançamento marcado para dia 21 de agosto, em Curitiba. Seu segundo livro traz o personagem Amok, um ser um tanto quanto diferente. A obra – Amok – cabeça, tronco e membros – sai pela mórula editorial e tem o prefácio de Fernando Gonsales.
Com vocês, Benett, nosso ser complexo #11:
“(…) trabalhava nas máquinas romanceadoras do Departamento de Ficção. Gostava de seu trabalho, que consistia basicamente em fazer funcionar e manter em bom estado um motor elétrico potente mas complexo. Era ‘ininteligente’, mas gostava de trabalhar com as mãos e ficava à vontade lidando com as máquinas. Era capaz de escrever todo o processo de composição de um romance desde a diretriz geral emitida pelo Comitê de Planejamento até os retoques finais realizados pelo Pelotão Reescritor. Mas não estava interessada no produto final. Não era ‘muito ligada em leitura’, disse. Os livros eram simplesmente um produto que precisava ser fabricado, como geleias ou cadarços.”
1984
George Orwell
Cia. das Letras, 2009
_O Amok é uma criança que odeia todo mundo e quer matar os coleguinhas de classe. Qual o limite que você vê para fazer humor?
O meu limite é se acho relevante ou não. O Amok poderia muito bem ser uma espécie de Cyanide and Hapiness se eu desenhasse todas as piadas que o tema “amok” permite. Mas prefiro ter menos leitores e ser menos popular do que publicar tiras mais violentas e apelativas. Não porque eu ache isso imoral ou politicamente incorreto. Mas porque, dentro do que quero dizer, isso não tem relevância nenhuma. Não me interessa mostrar o Amok cortando os colegas de classe ao meio com uma serra-elétrica. Mas sim os motivos que o levariam a fazer isso.
_Você se diz um cara tímido. Você costuma desenhar coisas que tem vergonha de dizer/fazer?
Bem… eu sou tímido quando tenho de falar sobre mim e sobre meu trabalho, então, podemos dizer que sim, desenho o que tenho vergonha de dizer. Vergonha não é bem o termo. Quando converso com as pessoas o último assunto que vou achar estimulante sou eu mesmo, porque convivo comigo e, afinal, o que mais quero quando encontro alguém é saber algo interessante.
_A gente sabe que você foi pai recentemente. E se seu filho decidir ser cartunista?
Acho que isso é tão provável quanto uma criança dizer que quer ser datilógrafa ou fabricante de clepsidras.
_Como seria uma dedicatória do livro do Amok para o Woody Allen?
“Sei que você não vai gostar”.
_O que seria do Benett sem boné?
Isso deve ser perguntado para pessoas como o Stephen Hawking.