Irlan percorre obstinadamente uma hipótese, a de que o diferencial financeiro das formas de empresariamento, que suportam o futebol contemporâneo de espetáculo se dissolvem em espaços curtos de tempo, acarretando nos mesmos problemas apresentados pelas tradicionais associações voluntárias clubísticas sem fins lucrativos. A pergunta insistente é: esse debacle dos modelos de gerenciamento empresarial dos clubes não seria o coração que pulsa de um capitalismo maliciosamente provisório? “Fracassar” ininterruptamente não diz respeito à própria dinâmica e “evolução” desse tipo de capitalismo excludente? O processo teleológico que Irlan sugere como sendo necessariamente conflitual desvela modelos que se autofagocitam o tempo todo.
Cada tentativa fracassada torna-se aprendizado para a seguinte, frustrando as expectativas e emoções por um futebol mais democrático. Quando até a FIFA reconhece que o futebol não pode ser gerenciado apenas pela régua do tecnicismo jurídico e mercadológico, apanágio das ditas SAFs, é porque desconfia que seu “produto” seja mais do que um bem tangível. Mas se a perspectiva dos torcedores é um bem inalienável e intangível, os perigos que acossam esse futebol podem torná-lo um bem inatingível, sobretudo àqueles que dele se alimentam sorvendo paixões e utopias clubísticas mais solidárias.
Luiz Henrique de Toledo