Este livro desenha um panorama intricado de narrativas, ideologias e práticas que desempenharam um papel central na constituição do atual imaginário político brasileiro. O foco do presente estudo nas projeções comunicáveis dos textos circulados pelo Jornal Nacional propiciou um modo de escrutínio singular. Não só trouxe visibilidade para a micropolítica em operação no cenário político brasileiro, como localizou a manufatura ideológica e a circulação insidiosa de um certo discurso público.
A cartografia de Oliveira detectou os regimes de voz e verdade reivindicados pelo jornalismo da Globo. Estes, em nome de “ideais democráticos”, conferiram normalidade, certeza e nexo semiótico a ideias díspares na economia, na política, nos costumes. Indicavam que o flerte com pautas neoliberais, fascistas e moralistas já se insinuava. Este livro fornece uma janela histórica para aspectos gestacionais do processo distópico que culminou na escolha de um candidato conservador, autoritário e extremista para governar o país por quatro anos.
É importante destacar que a obra não sucumbe a um viés determinista. Pelo contrário, a perspectiva adotada mostra que suas peças-signo são moduláveis. O fluxo, entretanto, não impede a identificação de processos de estabilização em curso. Ele indicia vestígios que apontam para possibilidades explicativas. Foram eles que levaram Oliveira a fazer um contraponto narrativo às histórias midiáticas favoráveis ao impedimento de Dilma. Ela esperançou outra lógica e uma nova resolução narrativa para o enredo catastrófico que se anunciava em 2016.
Branca Falabella Fabrício
COMUNICAÇÃO, GOLPE, IMPEACHMENT, JORNALISMO, POLÍTICA