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Entrevista

PTSC #5 :: Paula Santos

A nova entrevistada da sessão PTSC é paulista, mas tem ritmo de carioca. Tranquila, ela exercita a paciência há algum tempo ilustrando os trabalhos da mórula. Paula já fez conosco capa de revista, capa de livro e outras coisas mais. Paulica, como ela costuma assinar seus trabalhos, além de responder as nossas perguntas triviais ainda fez a gentileza de desenhar sua citação. A entrevista ficou um charme. E para não perder o clima, quando terminar, corre no blog da Paula que tem muita coisa linda por lá.


Com vocês, Paula Santos, nosso ser complexo #5:

_É dura a vida de uma paulista no Rio?
Depende do tipo de paulista. Eu sou do interior de SP, então tenho algumas características diferentes de uma paulistana. Morei em São Paulo capital e gostei, mas lá já sentia que algo não se encaixava bem com meu ritmo. Embora custos como moradia e alimentação estejam muito altos no Rio, em São Paulo eu sentia que ficava mais refém de grana para me divertir. Aqui no Rio tenho mais opções de lazer que não envolvem gastar muito dinheiro, como ir à praia, cachoeira, andar na lagoa etc. Em relação ao trabalho, mesmo nos primeiros anos morando aqui, São Paulo continuou sendo mais presente para mim. Eu morava e tinha emprego fixo no Rio, mas a maioria dos meus freelas continuava vindo de São Paulo. Passados três anos, eu estou conseguindo ter uma abertura de mercado maior por aqui, mas foi uma construção.

_O que dizer para o cliente que pede uma ilustração e quando ela está pronta diz: “não era bem assim, muda essa cor, aumenta aqui, mexe acolá” – e no fim quer outra coisa?
Antes de chegar a esse ponto, acho que é preciso fazer o cliente entender que todo trabalho deve começar com uma boa conversa sobre o projeto e o que se espera dele, o famoso briefing. Isso foi uma coisa que aprendi com a prática. Fui percebendo que é importante investir o meu tempo nessa primeira etapa, pra correr menos risco de ter que voltar à estaca zero. Aprendi que, quanto mais completo o briefing, menor a chance de você chegar a um resultado que não agrade o cliente. Agora, às vezes acontece de o cliente mudar de ideia no meio do projeto. Se é assim, você tem que tentar fazê-lo entender que, em efeito cascata, o briefing também muda, e o orçamento também.

_O que você mais gosta de ilustrar?
Tive uma fase de fissura por desenhar passarinhos. Desenhava eles por prazer, sem necessidade de haver um projeto que os envolvesse como tema. Hoje meus temas favoritos são os relacionados à cultura, principalmente à cultura popular. A música, por exemplo, é um tema que me inspira muito, seja em ilustrações por trabalho, seja por lazer.

_E para quem você jamais faria uma ilustração? Por quê?
Procuro não restringir muito, afinal é o meu ganha pão. Mas tem algumas pessoas que nem por muito dinheiro eu conseguiria pegar no lápis. Políticos corruptos, por exemplo.

_Palavras dizem mais que imagens? Ou é o contrário?
Palavras podem ser mais precisas, mas as imagens ampliam os significados.

 

UM LIVRO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Memórias Inventadas: a infância
Manuel de Barros
Editora Planeta, 2003

 

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PTSC #4 :: Marcos Alvito

Marcos Alvito é antropólogo, mas dá aula na faculdade de história da Universidade Federal Fluminense. Nasceu em Botafogo, mas é rubro-negro. Gosta de samba e se diz pandeirista amador. Este é o novo entrevistado do PTSC, que acaba de lançar dois livros. Um sobre futebol e outro sobre samba.

O professor conversou conosco por e-mail e falou sobre esses dois temas que define como suas paixões. Falou também sobre megaeventos e subverteu a ordem. Os leitores deste blog já sabem que todo entrevistado indica um livro. Pois Alvito negou o pedido dos editores e indicou uma música. Pensamos em não aceitar, mas como era um samba, não tivemos como recusar.

Com vocês, Marcos Alvito em cinco perguntas triviais, ao som de Paulo Vanzolini.

_Você acaba de lançar dois livros. Um sobre samba e outro sobre futebol. Quando sairá o livro sobre cerveja?
Do jeito que os sambistas consomem o precioso líquido, acho que um livro já está contido no outro…

_Das histórias que você conta no livro sobre samba, qual a sua favorita?
Poxa, essa pergunta é maldosa, é como querer que eu goste mais de um filho do que de outro. Mas é claro que eu tenho um carinho especial pela primeira história que escrevi e que abre o livro. Eu conto como Noel Rosa, no leito de morte, pede a seu irmão que o vire de lado. Na nova posição, Noel começa a batucar na mesa de cabeceira, com muito ritmo, mas que vai decrescendo, decrescendo… Noel viveu e morreu fazendo samba. Mas a maioria das histórias é bem mais alegre.

_ Há quem diga que o Rio de Janeiro vive seu melhor momento, com investimentos e preparativos para os grandes eventos. Qual a sua opinião sobre isso?
Vocês me pediram para escrever pouco. Basicamente, trata-se de um projeto de transformação do Rio de Janeiro em cidade-mercadoria, não mais uma cidade para os seus habitantes, mas para os grandes projetos comerciais, em detrimento das nossas tradições. Acho que o “novo” Maracanã é o exemplo maior das barbaridades que estão sendo cometidas em nome do “progresso”. O preço dos imóveis, dos aluguéis e do custo de vida disparou. E sabemos muito bem quem lucra com isso: os políticos mauriçolas, as empreiteiras, os especuladores, os grandes proprietários.


UMA MÚSICA
“Um homem de moral
Não fica no chão
Nem quer que mulher
Lhe venha dar a mão
Reconhece a queda
E não desanima
Levanta, sacode a poeira
E dá a volta por cima”

Volta por cima
Paulo Vanzolini, gravado pela primeira vez por Noite Ilustrada, em disco de 1963

_Conte-nos uma partida de futebol inesquecível.
Aconteceu na Inglaterra, onde eu torcia para o Oxford United, então na 5a. divisão. O Oxford ia mal e a partida seria televisionada pela Setanta Sports, uma rede a cabo menor, uma espécie de 2a. divisão televisiva. Acontece que nos últimos 7 jogos que a Setanta havia transmitido, o Oxford havia perdido. O adversário desta vez era sem maior expressão, o Rushden & Diamonds. Mas o jogo era no campo deles. Logo o Oxford toma o primeiro gol. Nossa torcida, eu incluído, nem se abala e começa a gritar: We are going to win two, one. Ou seja, vamos vencer por 2×1. Em seguida, o 2º gol deles. Vamos vencer por 3×2 e assim quando eles fazem o 3º e o 4º gols, vamos vencer de 5×4. Mas quando eles fazem o 5º nossa torcida resolve inovar: We want six. Nós queremos seis, nós queremos seis. Em seguida, fizeram um trenzinho e começaram a cantar que estavam dançando a Conga. Feliz daquele que sabe sofrer, dizia Nelson Cavaquinho. Estas e outras histórias da minha temporada na Inglaterra eu conto no livro A Rainha de Chuteiras: um ano de futebol na Inglaterra (Clube de Autores, 2012).

_Com que zagueiro do Flamengo você faria dupla e qual intérprete de samba você acompanharia no pandeiro?
Gostaria de ter a glória de formar na zaga com Leandro, o zagueiro mais técnico que já vi jogar. Seria uma boa dupla, pois eu sou um zagueiro totalmente sem técnica. Seria uma suprema honra bater um pandeiro para sua alteza Paulinho da Viola cantar.

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PTSC #3 :: Talitha Ferraz

Ela é jornalista, pesquisadora, cinéfila, poeta e tijucana. Talitha Ferraz é tudo isso e algo mais: a mais nova autora da mórula editorial. Ela publica conosco a segunda edição do seu livro “A segunda cinelândia carioca”, que trata dos cinemas de rua na Tijuca.

O livro é resultado da pesquisa de mestrado de Talitha. Ela deu continuidade à vida acadêmica e hoje encontra-se em Lisboa, estudando. Foi de lá e, tomara, acompanhada de um bom vinho, que ela respondeu ao PTSC desta semana. Com vocês, a complexidade deleuziana de Talitha Ferraz em cinco perguntas e um livro:

_Você escreveu um livro sobre cinema de rua. Por quê? Você gosta de cinema de shopping?
Escrevi um livro sobre cinemas de rua porque gosto de cinema de rua, apesar de ir também a cinema de shopping (com menos frequência), e porque estudei/estudo o papel que as salas de exibição cinematográfica, como equipamentos coletivos, têm no arranjo das cidades, nas configurações urbanas e na vida das pessoas. Acredito que as cidades perdem um pouco de sua vitalidade quando os cinemas saem das calçadas – dando lugar a igrejas, farmácias, ou quando são demolidos – e o acesso ao audiovisual cinematográfico em salas comerciais fica restrito aos grandes centros de compra, nos quais o consumo é a razão primordial. Um cinema de rua, por mais que se curve aos ditames do capital (é indústria, é comércio, ok…), deixa derramar um pouco de magia em seu entorno via cartazes, via letreiros, via filas, via pipoqueiro, via gente que fica na porta só olhando, via foyer que serve de ponto de encontro entre pessoas que às vezes nem estão tão afim de ver filmes, mas usam o equipamento que está com portas voltadas para a rua.

_Você acha importante preservarmos cinemas de rua?
Justamente para que tenhamos opções, para que o acesso aos cinemas não fique à mercê da existência de um shopping center, para que alguns prédios pérolas das arquiteturas art-nouveau ou art-déco não desapareçam ou virem igrejas protestantes, para que a gente possa um dia estar andando na rua, como quem não quer nada, e num relance ser invadido pela força cinematográfica. E outra coisa: as ruas têm que ser ocupadas por equipamentos culturais… Falo de sala de cinema, mas seria bacana se, por exemplo, o pessoal cineclubista pudesse ter acesso à gestão de algumas salas de cinema abandonadas. Seria bacana se pudessem existir mais cinemas a preços “baixos”, distribuídos por toda a cidade (toda no sentido de toda mesmo, não de “toda a cidade” no sentido de Zona Sul), tal como algumas iniciativas público-privadas vêm concretizando, com reaberturas e inauguração de salas.



UM LIVRO

“Não há movimento artístico que não tenha suas cidades e seus impérios, mas também seus nômades, seus bandos e seus primitivos.”

Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia
Gilles Deleuze e Félix Guattari
Editora 34, 1997

_Seu livro não é só sobre cinema de rua. É cinema de rua na Tijuca. Diz aí o que a Tijuca tem de especial.
A Tijuca foi o bairro do Rio de Janeiro que mais teve cinema, em meados do século XX, depois do Centro (Cinelândia). Foi um dos primeiros lugares no Rio a receber salas de exibição, ainda no perfil cine-teatro, em 1907. Há dados que indicam, inclusive, que a Tijuca teve até mais cinemas de rua do que a Cinelândia por um certo período. Mas para saber, tem que ler a pesquisa… E a Tijuca é a Tijuca! Bairro cheio de particularidades históricas muito fortes na vida do Rio de Janeiro.

_Um filme inesquecível visto num cinema de rua. Conta a história desse dia.
Eu frequentei os cinemas de rua da Tijuca quando ainda era criança e no início da adolescência. Depois disso, todos fecharam e viraram outra coisa. Sendo assim, as minhas memórias guardam as impressões sobre filmes aos quais assisti na tenra infância. Os da Xuxa e os dos Trapalhões, esses vi todos nos cinemas de rua da Tijuca, na Praça Saens Peña e arredores. Lembro-me de uma sessão em que fui assistir ao “Super Xuxa Contra o Baixo Astral” (eu gostava da Xuxa, não se sabe muita coisa sobre a vida quando se é criança e não, não, não: criança não é um ser sábio). Nessa sessão, a minha prima Luana chorou muito com medo do Guilherme Karan, que fazia o Baixo Astral. Naquele dia, eu fiquei um pouco irritada com o
choro dela, mas hoje vejo que ela tinha total razão em chorar.

_A gente sabe que você está fora do Brasil. “Do leme ao pontal, há algo igual”?
Não há nada igual do Leme ao Pontal, graças a Deus! E é por isso que o Rio de Janeiro é magnífico e sempre será a minha casa. Volto logo! Não vejo a hora de ter uma sensação térmica de 50°, embalando a escrita de minha tese sobre as extintas salas de cinema da Zona da Leopoldina, subúrbio do Rio, que defendo em março de 2014.

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PTSC #2 :: Sérgio Vaz

Foto: Marcelo Min

Esta semana, na seção Perguntas Triviais para Seres Complexos (PTSC), o blog da mórula conversou com o poeta e fundador da Cooperifa Sérgio Vaz. Sua história se confunde com a da Cooperifa, que há 11 anos realiza semanalmente – sempre às quartas-feiras – o Sarau da Cooperifa no Bar do Zé Batidão, na periferia de São Paulo. Essa história está retrada no livro “Cooperifa – Antropofagia periférica”, um dos três livros publicados pelo autor. Os outros são de poesia: “Literatura, pão e poesia” e “Colecionador de Pedras”.

Na sequência, Sérgio Vaz em cinco perguntas e um livro:


UM LIVRO
“A Esméria parou na frente dele e me chamou, disse para eu fechar os olhos e imaginar como eu era, com o que me parecia (…) Eu sabia que tinha a pele escura e o cabelo duro e escuro, mas me imaginava parecida com a sinhazinha. (…) Era muito diferente do que imaginava, e durante alguns dias me achei feia, como a sinhá sempre dizia que todos os pretos eram e evitei chegar perto da sinhazinha.”Um defeito de cor
Ana Maria Gonçalves
Editora Record, 2009

_O que você acha do título de ‘poeta da periferia’?
Não sei se mereço, mas agradeço. Esse título tem hora que ajuda, tem hora que atrapalha. Mas quem pode controlar a língua das ruas, né?

_Quem é esse ‘povo lindo e inteligente’ que você dialoga?
O povo da periferia, da favela, essa gente que adora um Deus chamado trabalho.

_O mundo precisa de mais poesia?
Mas é claro! Esse mundo precisa de governantes poetas (Sarney não vale).

_”Isso de ser exatamente o que se é ainda vai nos levar além”?
Sim, sonhar com as mão. Acredito nisso.

_Suas pedras têm quebrado muitas vidraças?
Muitas, inclusive a minha (risos).

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PTSC #01 :: Renato Cafuzo

Foto: Luke Garcia
Foto: Luke Garcia

Não, raro leitor, a mórula não está lançando seu partido político. Este é o primeiro post de uma nova sessão do blog: Perguntas Triviais para Seres Complexos – PTSC.

É entrevista, mas não é só entrevista. É também literatura e ironia, quinzenalmente, com um novo ser complexo.

Quem inaugura a sessão é Renato Cafuzo, ilustrador, designer, índio, caboclo, criolo, como diz a música. É só olhar a foto para ver que não estamos exagerando.

Renato é ilustrador oficioso da mórula em diversos trabalhos. Já fez conosco a revista Democracia Viva e alguns livros. É também parceiro na criação dos marcadores literários.O primeiro deles já saiu com desenho do Cafuzo e texto do barbudo do Cosme Velho.

Sem maiores delongas, Cafuzo em 5 perguntas e um livro:

UM LIVRO
“O conceito de jogo enquanto tal é de ordem mais elevada do que o de seriedade. Porque a seriedade procura excluir o jogo, ao passo que o jogo pode muito bem incluir a seriedade.”

Homo Ludens
Johan Huizinga
Editora Pespectiva, 2000

_Você é ilustrador e designer. Como se deu isso? Você estudou? Vive disso hoje?
Desenho desde criança e nunca “funcionei” direito pra coisas que não gostava, cresci ouvindo que desenhar não dava dinheiro a não ser que eu fosse arquiteto e dessa ideia eu não gostava. Quando vi a oportunidade de fazer design gráfico fiquei empolgado porque achava que era o mais próximo do que eu gostava de fazer.

Estudei design gráfico no Senai e trabalhava pra pagar o curso, dei a sorte de já começar estagiando na área, então era estudo teórico de um lado e prática de outro. Os estudos em design também serviram pra evoluir na ilustração e, mais tarde, fiz (e ainda faço) alguns cursos livres mais específicos.

Hoje trabalho com os dois, mas o que me sustenta mesmo é o design, isso me permite ser mais livre nas escolhas que faço sobre ilustração.

_Você mora na Maré. Há quem ache a Maré um lugar “perigoso”. Você acha?
Não mais que o restante do Rio. Um professor meu sempre fala sobre a diferença do perigo e a sensação de perigo. Essa segunda se dá por outros fatores que não envolvem a segurança em si, mídia, falas de quem nunca botou o pé aqui, até o contexto histórico de como a favela é vista até por ela mesma. Mas acho que ainda tem muita coisa pra acontecer aqui e isso deve mudar de alguma forma.

_O que responder para o cliente que não quer pagar e manda o clássico: “vai ser uma boa divulgação para o seu trabalho”?
De qualquer forma meu trabalho vai ser divulgado, ele é feito pra isso, ilustrar uma veiculação. Então isso não serve de contrapartida pra um não-pagamento. Existem milhões de outros motivos que me fariam até gastar dinheiro pra concluir um desenho, mas não esse.

_Para quem você jamais faria uma ilustração? Por quê?
Pra muita gente, mas não tenho interesse nenhum em fazer pra campanhas políticas. Acho que o (meu) desenho, apesar de buscar a figura humana, tem uma carga muito lúdica e isso fala de emoções, afeta pessoas.

Não consigo confiar num partido a ponto de servir de voz pra isso e pensar que o meu trabalho, que é simbólico, moveu alguém a acreditar em algo tão sério e que eu não tenho certeza se é verdade.

_É melhor um passarinho na mão ou dois voando?
Gosto de passarinhos, se eles também gostarem de mim, virão cantar na minha janela.

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