Cabeça nas nuvens é privilégio dos poetas.
Os devaneios passam dos dez mil pés.
Às vezes planam, às vezes arremetem para
alcançar a altura do sonho.
Num looping certeiro, Quaquá, com as
unhas cravadas no gelo que habita o céu
de flocos brancos, salva, no livro, as
memórias da infância, abre algum arquivo
morto e imprime seus ídolos de superfície.
Nas ocasiões em que as pedras frias caem
em precipitação, nascem raios e trovões
no dedo indicador do escritor.
É quando a poesia denuncia a perseguição
aos pretos, aos pobres, ilumina os espelhos
que refletem a miséria brasileira.
Essa Cabeça nas Nuvens é cubana, é oceânica.
Pensa nos carros vermelhos, na mutação
dos versos, nas bandeiras pela estrada,
o imaterial amor ao próximo.
Por isso que Quaquá é um dos nossos.
Lucidez só nas horas vagas. Sua rota
é a poesia.
Moacyr Luz
POESIA