
COLEÇÃO DIABO NA AULA | VOLUME 3
“As mulheres vivem se acidentando o tempo todo” — trata-se de uma constatação, mas também de uma espécie de profecia soprada pela personagem da Atriz. De fato, iremos assistir a “uma sucessão de acidentes”. À semelhança de um programa de atrações sanguinolentas e alucinadas de um circo infernal, assistiremos a figuras como Domitila, que perde partes de seu próprio corpo em um passeio de carro; Lucía, “a acrobata que não faz acrobacias”, estatelada no chão ao desafiar o administrador do circo; Enila, violentada pelo homem de nariz de palhaço.
Nesta dramaturgia monstruosa, “sem cabeça, cheia de pelos, com mais de um cu, com mais de uma palavra e nenhuma autora, sem dona, bêbada, suja, desimportante”, Julia Limp nos surpreende com sua capacidade infinita de invenção. A peça é um verdadeiro canteiro de formas teatrais: pantomima, acrobacia, projeção de imagens, animais e objetos falantes, strip-tease, peça-sonho, autodrama, insulto ao público. Para recuperar a imaginação, Julia nos propõe um dos procedimentos mais antigos da humanidade: imaginar uma cena e lançar um mistério. Quem fará o papel do acidente?
Vanessa Teixeira de Oliveira
DIABO NA AULA, POESIA