Este A força da memória é um feito raro nas ciências sociais. A começar pelo título, um jogo de palavras ricamente a serviço de um argumento — em que se explicita ao mesmo tempo a agência da memória e como ela pode ser agenciada pela força, notadamente aquela que, em várias situações e por vários distintos motivos, nós, sejamos pesquisadores ou pessoas comuns, chamamos de “violência”. Trata-se de um verdadeiro e radical exercício de simetrização, de colocação sob uma mesma lupa de seres aparentemente muito distintos, mas que olhos analíticos muito argutos conseguem enxergar como de mesma natureza: policiais afastados do serviço e parentes (especialmente mães) de vítimas de acidentes. É que ambos perderam para aquela “violência” (a urbana, a do trânsito) uma parte de si (as pernas, a visão, a saúde mental, um colega, um filho, um irmão) e buscaram ajuda, apoio. Vittorio Talone enfrenta sem medo e com sensibilidade a questão de como essas pessoas revisitam as próprias histórias de sofrimento e buscam retomar suas vidas. Em 2016, ele foi merecedor de Menção Honrosa no Concurso Anpocs com sua dissertação, defendida no PPGSA da UFRJ. Aqui, trabalho oriundo de sua tese de doutoramento (2020) no Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj, ele faz um poderosíssimo exercício ao mesmo tempo de sociologia da moral, de sociologia da violência e de sociologia existencial, um trabalho a permanecer com enorme força na memória.
Alexandre Werneck
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Não é apenas uma discussão do impacto variado do contato com a morte. É um trabalho de demonstração da capacidadede resiliência das pessoas diante de situações tão pesadas como as que essas pessoas viveram. Junto com a resiliência, e como parte da resiliência, está um espectro que é o medo de não ser capaz de resistir, de todos. E é esse o ponto que me parece que ressalta a relevância dos grupos de apoio, portanto, a relevância dos grupos sobre a capacidade de resistir à fragmentação total das individualidades.
Luiz Antonio Machado da Silva
SOCIOLOGIA