COLEÇÃO DIABO NA AULA | VOLUME 6
Escrever, sim, apesar do desespero; não, com o desespero é observação que vem de Marguerite Duras e que Laís Romero evoca de maneira acentuada. Há guerras enquanto escreve, ela tem a mão tomada pelos corpos e pela impossibilidade dos poemas de uma jovem palestina assassinada. Os mortos lhe dizem, os refugiados, pessoas esquecidas, memória apagada, reincidências de séculos. E uns tais homenzinhos sobre pedestais, gente afogada em telas, mortos-vivos que tudo ignoram. O que é aleatório depende das circunstâncias e, essas, insistem em imagens de violência e dor. Não há beleza que nos salve da miséria, não há: são navios carregados de comida e o projeto da fome, o horror. O canto do urutau é canto a palo seco. Mas se não nos salva a beleza, seu mistério existe, bem aqui, ali, à vista e além. Sem pretensão de nada da nossa pequenez, um rio segue seu curso e é a ele que entoa uma espécie de salmo. E ainda, à vida sem pressa: a demora em nomear, o vazio, o Parnaíba, o bico de um pássaro negro. Aqui, todos os arcanos maiores a força do poema de Laís Romero.
Sara Síntique
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A coleção diabo na aula – organizada por Carlos Augusto Lima e Manoel Ricardo de Lima – vem de uma expressão retirada do poema cultura francesa, de Drummond, “aluno de moral-zero”, que presta sentido a Murilo, entre Alfred Jarry e Brigitte Bardot. Murilo bagunça a cena, desmonta o mestre, este é o jogo: errar e desobedecer generosamente toda e qualquer moral, aprendizagem infinita e impensada, “gestos impossíveis”.