Nas primeiras eleições diretas para presidente, Tancredo Neves foi eleito por um “pacto das elites”, um acordo entre os poderosos, que continuariam dominando o país e não garantiriam a instauração de um regime democrático autêntico, no qual o povo assumisse o papel que lhe cabe no processo político. Se um governo civil não significava o fim das arbitrariedades praticadas desde a implantação da ditadura civil-militar em 1964, ao mesmo tempo o povo não se tornava sujeito ativo da sua própria história, persistindo o que o arcebispo Dom Aloisio Lorscheider chamou de “elitocracia”.
Por sua vez, Tancredo Neves pareceu compreender bem a distância que existia entre as expectativas acalentadas pela população quanto às medidas necessárias para enfrentar os gravíssimos problemas do país e as condições reais em que se encontravam as suas instituições. Por mais que declarasse ter plena confiança nos apoios que teria para enfrentar os desafios, ele reconhecia também o tamanho das dificuldades a superar. Por isso mesmo, colocou tanto empenho na convocação de uma Assembleia Constituinte, com a qual pretendia dividir o peso de carregar a “esperança esmagadora” da população em relação ao próprio futuro. Essa “esperança esmagadora” talvez explique a abrangência da Constituição de 1988 e a crença do presidente eleito em seu papel mediador. Segundo ele mesmo disse, só a Constituinte conciliaria o Brasil.
DITADURA, HISTÓRIA, MANIFESTAÇÕES