As capas da coleção Aldir 70 são ilustradas pelo cartunista Allan Sieber. Quando convidamos o Allan, apresentamos como referência as capas desenhadas por Mariano para a extinta Codecri, editora do Pasquim, que publicou “Rua dos Artistas e arredores” e “Porta de tinturaria”.
“Na verdade, apesar da referência, eu tentava fugir o máximo possível das capas da primeira edição, para não parecer uma releitura”, conta o ilustrador. “Me guiava pelas coordenadas dos editores e pelos textos dos livros, mas sempre evitando dar uma referência de algum personagem. Acho importante o leitor ter a liberdade de inventar, de imaginar por conta própria seu personagem”, diz Allan sobre o processo criativo.
Uma das dificuldades apontadas é que, segundo ele, não é simples fazer um trabalho para quem você tem admiração: “Eu sentia uma certa trava, justamente porque eu gosto muito do Aldir. Uma certa responsa em fazer as capas dos livros dele, de quem eu gosto muito, isso traz dificuldade”.
Sobre sua relação com Aldir, Allan conta que o conheceu pessoalmente no início dos anos 2000 quando estava produzindo, junto com o chargista Leonardo Rodrigues, o curta de animação Santa de Casa, que é baseado na crônica Santa milagrosa do compositor e cronista. A crônica é uma das que integram o livro de inéditos Direto do balcão. Para a trilha sonora do curta Aldir ainda compôs um samba inédito.
Na pré-venda da coleção Aldir 70, disponibilizamos inicialmente duas capas desenhadas por Allan – peças únicas, não reprodução. Mas com o sucesso da recompensa, voltamos ao ateliê do cartunista para saber se ainda havia algum original que ele pudesse disponibilizar para a campanha. De lá voltamos com algumas preciosidades.
Ainda é possível adquirir a ilustração que ele fez para “Porta de tinturaria”, esta:
E além disso, criamos uma nova faixa de recompensa, para os desenhos que serviram de base para “Rua dos Artistas e arredores” e “O gabinete do doutor Blanc”. Há também a primeira ilustração feita para o “Porta de tinturaria”, que não foi aprovada pelos editores, mas é igualmente preciosa.
Aldir Blanc é um dos mais importantes compositores da música brasileira. É também médico psiquiatra e cronista, reconhecido pelas bem-humoradas histórias e personagens da zona norte do Rio de Janeiro.
Em 2016, Aldir completou 70 anos e a Mórula, editora carioca e independente, lançou a coleção Aldir 70 para comemorar a data. Os dois primeiros volumes da coleção – O gabinete do doutor Blanc e Rua dos Artistas e arredores – foram lançados em 2016. Agora, contamos com a sua ajuda para completar a série com os três livros que faltam – Porta de Tinturaria, Vila Isabel, inventário da infância e Direto do Balcão. E isso, antes que o Aldir complete 71 anos.
Somos, os brasileiros, pentacampeões mundiais de futebol. Perguntaram-me, certa feita, qual foi a maior das vitórias do futebol tupiniquim. A final contra a Suécia, em 1958? O saco que metemos na Itália, em 1970?
Matutei sobre os feitos do escrete, descartei as finais de 1962, 1994 (essa foi menos emocionante que a Missa do Galo daquele ano) e 2002, cogitei citar o baile que demos na Espanha na fase final da Copa de 1950, mas, na hora de responder, falei de forma automática, feito caboclo de umbanda:
— A maior vitória da história do futebol brasileiro não foi obtida pela seleção. Foi o vareio que o Paysandu de Belém deu no Peñarol do Uruguai em 18 de julho de 1965: 3 a 0 pro Papão no Estádio da Curuzu.
É verdade. Foi mesmo um feito digno de figurar nos anais da história. O Peñarol à época era uma máquina. O time titular era praticamente a seleção do Uruguai: Mazurkiewsk, Forlan, Abbadie, Pedro Rocha e Caetano, por exemplo, envergavam a camisa preta e amarela do time platino. Eram, os gringos, bicampeões da Libertadores da América, bicampeões uruguaios e campeões mundiais interclubes.
Pois o Paysandu deu um vareio nos homens. Com o ex-tricolor Castilho fechando o arco e um ataque encapetado — Vila, Milton Dias, Pau Preto e Ércio —, o Papão não tomou conhecimento da rapaziada do churrasco, jogou pra dedéu e liquidou a fatura de forma inapelável (Ércio, Milton Dias e Pau Preto fizeram os gols).
Ouso dizer que, em se tratando de confrontos na América Latina, o que o Paysandu fez com o Peñarol reduz a Batalha Naval do Riachuelo a um evento tão dramático quanto um passeio de elevador em um prédio de cinco andares.
O triunfo do Paysandu virou Belém de cabeça pra baixo. Houve carreata, ponto facultativo, desmaios, infartos, pororoca no Rio Guamá, pato no tucupi e o escambau. O Liberal, o maior jornal do Pará, estampou na manchete: “Triunfo do Papão é a vitória do Brasil”. Estava vingado o maracanazzo de 1950.
Daqui do Rio, basbaque com o triunfo, Nelson Rodrigues — garantindo que assistira ao jogo pelos rumores do vento — não deixava por menos em sua crônica no jornal “O Globo”: “O Paysandu tem camisa. Sendo preciso, sua camisa deixa de ser um trapo qualquer para erguer-se como um estandarte em chama […]. O Peñarol saiu de lá com as orelhas a meio pau. Três a zero! Um banho completo!”.
Uma grande história desse jogaço aconteceu nas arquibancadas. Um dos torcedores presentes ao embate, o fuzileiro naval Francisco Pires Cavalcanti, teve um treco durante a partida. Pires era músico da marinha e compositor, mas não conseguia compor nadica de nada há uns vinte e tantos anos. As musas do poeta estavam de férias.
Entusiasmado com o desempenho do seu Paysandu, o fuzileiro Pires teve uma inspiração súbita, uma espécie de estalo de Vieira. Num estado de transe que só o futebol proporciona, começou ali mesmo, nas arquibancadas, a compor uma marchinha em homenagem ao Papão e ao chocolate paraense nos uruguaios.
Encerrado o jogo, um eufórico Pires cantava que nem doido para não esquecer a melodia que acabara de fazer: “Uma listra branca, outra listra azul, essas são as cores do Papão da Curuzu”. O fuzileiro acabara de compor a ciranda, cirandinha do futebol do Pará.
Além, portanto, da vitória acachapante contra os gringos, aquela tarde de sol em Belém viu nascer um dos hinos mais simpáticos dos clubes de futebol do Brasil. Para muitos, inclusive, a marchinha de Pires é o hino oficial do Papão. Não é, mas é como se fosse.
Vou ser sincero: o hino oficial do Paysandu não me comove. Parece uma ladainha de igreja. Já a marchinha do fuzileiro Pires é boa pra burro. Cita o baile no Peñarol e ainda sacaneia o maior adversário, o Clube do Remo, ao se referir a uma biaba que o Papão deu no rival (um acachapante 7 a 0) no verso “Pintou o sete numa tela azul”. É isso, camaradas. Viva o glorioso Paysandu e viva o fuzileiro Pires, caboclo amazônico encantado nas arquibancadas da Curuzu toda vez que a torcida do Papão entoa sua marchinha arretada.
As 32 crônicas de “Ode a Mauro Shampoo e outras histórias da várzea” são uma forma de resistência encontrada pelo autor, o historiador Luiz Antonio Simas, ao futebol moderno, tratado como negócio e espetáculo. Nos textos, que valorizam os chamados “times pequenos”, as derrotas são tão valorizadas quanto as conquistas, e a várzea é considerada qualquer terreno onde o futebol inventa a vida.
Crítico aos termos “jogador diferenciado”, “peça de reposição”, “assistência”, “arena multiuso” e “espectador”, Simas faz um paralelo entre as culturas do futebol com as do botequins atuais: “O processo de falência do futebol e do botequim como cultura reduz o jogo e a ida ao bar aos patamares de meros eventos; para delírio das caravanas que parecem percorrer os bares com a curiosidade dos antigos imperialistas em incursões civilizadoras e dos espectadores que ficam fazendo selfies em estádios de futebol enquanto a bola rola. Me espanta, ainda, como isso se reflete no vocabulário, que perde as características peculiares do torcedor e do bebum (o correto agora é chamar de “butequeiro”) e se adequa ao padrão aparentemente neutro do jargão empresarial”.
O jornalista Thales Machado, que escreveu a orelha do livro, descreve Simas como “um sujeito encostado no balcão, de chinelo de dedo, camisa do São Cristóvão, para nos dizer e nos lembrar que vale também a história do Leônidas da Selva e não só a do (grande) Leônidas da Silva”.
O que interessa ao historiador a respeito do futebol brasileiro é a capacidade que o povo daqui teve de se apropriar do jogo europeu e lidar com ele não como simulacro, mas como reinvenção. Segundo Simas, “este talvez seja o traço distintivo mais importante de certo modo de ser brasileiro: a capacidade crioula de apropriação de complexos culturais estranhos e o poder de redefini-los como elementos originais”.
Sei de muita gente que anda preocupada com os eventos previstos para a cidade do Rio de Janeiro nos próximos anos. Há quem diga que a cidade não suportará o crescimento do Carnaval, o furdunço da Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Minha opinião, nesse sentido, é muito clara: a população da cidade do Rio de Janeiro tem a tradição de enfrentar com galhardia as maiores confusões e transformar em festa (para o bem e para o mal) as situações mais desfavoráveis. Os riscos maiores se encontram, podem apostar, nas ações e negligências do poder público. Recorro à História para exemplificar.
Em 1710, pouco depois da notícia de que o ouro tinha sido encontrado em Minas Gerais, o rei francês Luís XIV resolveu enviar ao Brasil novecentos e tantos piratas, sob comando do capitão de fragata Jean-François Duclerc, para pilhar a cidade do Rio de Janeiro.
Os flibusteiros enviados pelo Rei Sol, temendo a barra estreita e as fortalezas da Baía da Guanabara, desembarcaram em Guaratiba, atravessaram os sertões de Jacarepaguá e as matas da Tijuca e rumaram em direção à cidade sem maiores problemas. Nesse momento entrou em cena o governador do Rio na ocasião, o português Castro Morais – apelidado pela população, que tinha o saudável hábito de não simpatizar com governantes, de ‘O Vaca’. Retifico a frase: Castro Morais, na verdade, saiu de cena.
Ao receber a notícia de que os homens de Duclerc estavam chegando ao Centro da cidade, Castro Morais tomou a mais inusitada decisão administrativa da história carioca em todos os tempos. Teve um ataque de covardia, se trancou no palácio governamental (no prédio onde hoje fica o Centro Cultural Banco do Brasil) e, de lá mesmo, mandou anunciar que estava passando, em ato administrativo, o comando das tropas ao novo chefe da segurança pública da cidade: Santo Antônio.
É isso mesmo. Santo Antônio, o casamenteiro, morto em 1231, foi oficialmente nomeado comandante das forças de segurança do Rio de Janeiro em 1710. Há quem afirme que uma pequena estátua do santo foi oficialmente empossada no cargo, em rápida cerimônia administrativa.
O pepino sobrou, evidentemente, para a população. As notícias deque o governador estava trancado no palácio sob cuidados médicos, tendo ataques nervosos, e de que Santo Antônio era o novo responsável pela defesa da cidade, levaram o povo do Rio a se virar. E nisso, admitamos, o carioca é especialista.
Os franceses – desgastados pela estratégia maluca de atravessar Jacarepaguá e a Tijuca a pé – foram emboscados no largo da Lapa e atacados das janelas com armas de fogo, óleo fervente, pedras, pedaços de pau, hortifrutigranjeiros e toda a sorte de quinquilharias domésticas. Milícias populares se organizaram com impressionante rapidez. O cacete estancou nas vielas do Centro, com especial destaque para combates corpo a corpo envolvendo escravos, índios, mulheres, crianças, bebuns, padres e devotos. Os estudantes do colégio dos jesuítas deram uma banana para as aulas, formaram uma inusitada artilharia de batinas e, desta forma, mandaram bala nos franceses e evitaram a invasão do palácio do governador.
Depois do furdunço todo, o saldo da quizumba era o seguinte: trezentos e tantos franceses mortos, quatrocentos e poucos presos – dentre eles o próprio Duclerc, que acabou misteriosamente assassinado em sua prisão domiciliar – e outros tantos feridos. O governador, saído do estado de letargia, permitiu que a semana seguinte à vitória fosse dedicada aos festejos populares – como se a população precisasse de alguma autorização do Vaca para celebrar a vida.
A ironia é irresistível. Que me desculpem os fãs da política de segurança dos governos. Os fatos históricos indicam, sem a menor margem de dúvidas, que o maior secretário de segurança pública da história do Rio de Janeiro foi mesmo Santo Antônio. Estou com ele e não abro. Revelam, ainda, a enorme capacidade da população do Rio para dar nó em pingo d’água e se organizar na mais absoluta desordem.
O risco maior é mesmo a síndrome de Castro Morais. Vez por outra o espírito do Vaca gruda no cangote dos nossos governantes e o poder público não cumpre a sua parte, não faz o que deve ser feito e ainda corre o risco de se meter onde não devia. De festa a gente entende; administrar o babado é que são elas. A vocação do Rio, salvação e danação da nossa gente, é, afinal de contas, amanhecer cantando.
Quanto a Santo Antônio, resta dizer que este é craque. Sincretizado com Ogum nos candomblés da Bahia, com Xangô, em alguns candomblés do Recife, e até com Exu, em vários terreiros cariocas, mereceu inclusive ser homenageado com uma curimba das mais populares em nossas macumbas, que o vincula ao povo da rua:
Santo Antônio de batalha Faz de mim batalhador Corre gira, pombagira, Tiriri e Marabô.
Mães também podem namorar (special edition de Dia dos Namorados) é uma crônica de Leonor Macedo, presente no livro Eneaotil.
Eu e o pai do Lucas namoramos por quase dois anos.Quando nosso filho era bem pequeno, com uns três meses, a gente se separou. Não chegamos a morar juntos, éramos muito novos, duros, confusos, mas foi como uma separação, e não um término de namoro comum, pois já havia um molequinho na jogada.
Depois disso, ele conheceu a Thaís, namoraram por 8 anos e se casaram no ano passado. Eu fiz o contrário: namorei vários caras, nunca me casei e acho que nunca vou casar. Calma, isso não é uma queixa desesperada de quem está desistindo da vida porque ainda está encalhada. Não casar é uma opção e estou muito feliz com ela, obrigada.
Parece que quando uma mulher se torna mãe solteira, ela tem a obrigação de passar o resto de seus dias procurando um marido. Um macho provedor que dê conta de gerenciar a família e de ensinar aos pequenos como é que se faz, como é que se vive. E mais: no imaginário coletivo, só um marido seria capaz de devolver a essa mãe solteira o gostinho de ser mulher, de passar pelos carros se olhando nas janelas e se sentir desejada novamente.
Veja, esse também não é um texto de quem tem a convicção de que fez a escolha certa, de quem sataniza casamentos e de quem é uma solteira irremediável. Longe de mim, eu adoro ter alguém.
Por esse motivo, eu já namorei muitas vezes, com muitos caras diferentes. Sou praticamente um Martinho da Vila de saias. E todas, absolutamente TODAS as vezes que eu engatava uma relação, eu ouvia a mesma pergunta:
– Mas você vai apresentar o cara para o Lucas? Não tem medo de confundir a cabeça dele?
No começo, batia aquela culpa cristã. Será? Será que é muito cedo para apresentar um novo namorado? E quem determina esse tempo? E depois, se terminar, como é que vai ser para o Lucas?
Como não existe um Manual Básico para Mães Solteiras, tive que ver para crer. Precisei tirar o menino do plástico bolha e deixá-lo viver: conhecer as pessoas, gostar ou não delas e se despedir, mesmo contra a vontade, às vezes. Pois é assim que é a vida, desde o dia em que a gente nasce até o dia em que a gente morre. Num dia, nós escrevemos nas capas dos cadernos das pessoas que estaremos juntos até morrermos, mas bastam alguns meses de férias para perdermos totalmente o contato com aquele amigo inseparável. E sobrevivemos, não?
Desde que me separei do pai do Lucas, meu filho conheceu todos os namorados que eu tive. De alguns ele gostou mais, de outros, menos. Alguns viraram seus amigos e com esses até hoje ele conversa, mesmo depois de a relação ter ido à falência.
Luquinhas virou praticamente o meu filtro: só valeria a pena entrar no novo namoro se o cara topasse o fato de que eu sou uma mãe solteira, de que a cicatriz da minha cesariana não sairá com o tempo, de que eu não estou disponível somente para cinemas noturnos, trepadas, amassos, bebedeiras, festas, viagens românticas. De que a gente pode fazer tudo isso, mas também tem que ir ao parque, às festinhas de criança, levar ao médico de madrugada, ficar em casa no feriado esperando o pequeno chegar da casa do amiguinho. Só namorei quem entendeu que, desde o dia 12 de novembro de 2001, eu não sou mais sozinha, nem nunca mais serei.
Quando o meu namoro com o Daniel acabou, o mais conturbado de todos eles e a relação em que o Lucas mais esteve envolvido, foi difícil contar ao meu menino. Porque para ele o Daniel significava dias na praia, brincadeiras, e ainda tinha a família toda do cara que ele havia conhecido e adorado. Foram dois anos de convivência intensa.
O Lucas tinha 7 anos quando esse meu namoro ruiu, de uma forma terrivelmente dolorida. Lembro-me de ter entrado no quarto dele e, aos prantos, contado que tínhamos terminado. Lucas me fez deitar em seu colo, acarinhou meus cabelos e disse que eu ficaria bem.
Ali eu entendi quem é que eu estava criando: um moleque emocionalmente inteligente, que poderia ficar confuso com truques de mágica e ilusionismo, com regras gramaticais, com frações, mas não com a vontade da mãe dele de ser feliz.
Tem pré-venda na área! Comprando o novo livro de Luiz Antonio Simas, “Ode a Mauro Shampoo e outras histórias da várzea“, até às 16h do dia 30/06, você leva para a casa um exemplar autografado e ainda concorre a uma camisa do Paysandu de 1965. Os livros serão enviados a partir do dia 03/07 e o frete é grátis para todo o Brasil.
As 32 crônicas do livro são uma forma de resistência ao futebol moderno, tratado como negócio e espetáculo. Nos textos, que valorizam os chamados “times pequenos”, as derrotas são tão valorizadas quanto as conquistas, e a várzea é considerada qualquer terreno onde o futebol inventa a vida. Saiba mais.
O lançamento da publicação será no dia 01/07 às 14h, na Livraria Folha Seca, na Rua do Ouvidor. Confirme sua presença em nosso evento no Facebook e convide seus amigos.
Com a proximidade dos 80 anos da morte de Noel Rosa, a Mórula homenageia o sambista com o lançamento de “Conversas de Botequim“, reunião de 20 contos inspirados nos títulos de suas canções, escritos por 20 autores de diversas partes do Brasil. O texto abaixo, sobre o compositor, é de autoria de Luiz Antônio Simas e integra o livro “Pedrinhas Miudinhas“.
Noel Rosa é um dos inventores do Brasil, gênio da raça. Deveria ser ensinado nas escolas, cantado nas universidades, bebido nos botequins, saudado nas esquinas e reverenciado nos terreiros.
Noel Rosa é Exu e Oxalá ao mesmo tempo – homem da rua, dono do corpo, malandro maneiro, azougue de céu e terra, civilizador afoito e velho sábio. Feito Obatalá bebeu o vinho de palma, dormiu na sombra da palmeira, largou a medicina como se larga a tarefa de Olodumare, zombou da sorte, não criou o mundo mas moldou no verso – ritmado em samba – o homem.
Noel Rosa é tapa na cara do preconceito e prova evidente de que o maior elemento civilizador do Brasil é o samba. Não pensou em remover favela – subiu o morro, aprendeu, ensinou, bateu, levou e inventou a vida entre o pandeiro e a viola. Branco azedo entre os pretos, feito camisa do Botafogo.
Noel Rosa é conversa de botequim, futebol no rádio de pilha, conta pendurada, caldo verde pra curar ressaca, conversa fiada, sacanagem no portão, punheta de garoto, pêra uva maçã salada mista, selo carniça nova, pipa no céu, bola ou búlica, vida pela sete, com tabela na caçapa do meio. Brasil que gosta do Brasil.
Noel Rosa é festa da Penha, novena, quermesse, tambor de mina, sessão de mesa, doce de Cosme, baile nos infernos, flor e navalha, afago e pernada, gol de letra e gol de mão, pomba da paz e galo de rinha, Estácio, Tijuca, Vila – o Brasil que sabe, e Morengueira confirma, que em casa de malandro o vagabundo não pede emprego.
Noel Rosa viveu no tempo em que do morro da Mangueira se enxergava a Vila Isabel. Hoje, entre o Buraco Quente e o Boulevard, existe o prédio da Universidade do Estado do Rio de Janeiro pra esculhambar a vista – e não se ensina o poeta, e não se canta o poeta na universidade: Pior pra ela.
Noel Rosa nunca morreu; encantou-se em Vila Isabel aos vinte e seis anos, feito Mestre da Jurema, Zé Pilintra, caboclo de pena, boiadeiro de laço, erê de cachoeira, bugre do mato, malandro da encruza e exu catiço.
Noel Rosa é da família dos encantados que moram nas esquinas, campos de várzea e botecos vagabundos, e baixam quando a noite é grande e a cachaça é farta: Mané Garrincha, Aleijadinho, Bispo do Rosário, João da Baiana, Cartola, Mãe Senhora, Geraldo Assoviador, Villa Lobos, Bimba, Pastinha, Camafeu de Oxóssi e Lima Barreto são da mesma guma de ajuremados – os caboclos nossos, brasileiros.
Como o discurso anticomunista foi reverberado no Brasil no pré-golpe de 1964 é o que o novo livro de Pâmella Passos procura demonstrar. A partir da análise de materiais produzidos pelo Instituto de Pesquisa de Estudos Sociais (o Ipês), a autora mostra como essa propaganda colaborou para a produção e reprodução de um imaginário anticomunista no país, capaz de ser um dos pilares de sustentação do golpe civil-militar de 1964.
Vozes a favor do golpe! O discurso anticomunista do Ipês como materialidade de um projeto de classe está disponível para download gratuito no site da Mórula. O livro é resultado da pesquisa de mestrado realizada pela autora no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) entre os anos de 2006 e 2008. O período pesquisado vai da fundação do Instituto, em 1961, até o golpe de 1964, momento em que houve no Brasil um acirramento das polarizações ideológicas. Como escreve a autora, “nesse enquadramento temporal, pretendemos investigar as relações de poder relativas ao tema, buscando discutir as crenças e as representações expressas no material de propaganda produzido pelo Ipês, como parte da luta ideológica que então era travada”.
Adriana Facina aponta que a pesquisa nos dá mostra da competência da elite brasileira em forjar um projeto de dominação. “A preparação do golpe de 1964 precisou da propagação do medo e de uma propaganda que associava o governo João Goulart à corrupção (inclusive moral) e à ameaça comunista. No discurso foi construída a materialidade que as armas sacramentaram. Igreja Católica, mídia hegemônica, empresários, latifundiários, intelectuais organizaram o caminho por onde os tanques triunfaram”, escreve no prefácio da obra.
A professora Lená Medeiros de Menezes, que orientou a pesquisa e assina a apresentação, relata que a obra trata dos caminhos seguidos pelo país no contexto da Guerra Fria, “no qual os comunistas tornaram-se inimigos declarados e o ‘perigo comunista’ motivação para vigilância, controle e repressão sobre muitos brasileiros”. A importância deste livro, para ela, está principalmente porque “permite uma melhor compreensão de um tempo de conturbações, no qual o deslocamento da Guerra Fria para a América Latina (…) fez ressurgir um agressivo discurso anticomunista e contrarrevolucionário”.
_Sobre a autora
Pâmella Passos é professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), doutora em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e mestre em História Política pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), onde também concluiu a graduação em História. Foi uma das organizadoras do livro Política Cultural com as periferias: práticas e indagações de uma problemática contemporânea (2013).
Pesquisadora e mãe da Cecília, Pâmella Passos também não é de perder um baile funk. Professora do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), Pâmella lança seu novo livro: “Vozes a favor do golpe! O discurso anticomunista do Ipês como materialidade de um projeto de classe”, que discute o papel do Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais na legitimação do golpe de 1964 no Brasil. Na entrevista ela fala do livro e de paralelos possíveis com a realidade atual, funk e da importância de uma educação crítica dentro e fora das escolas para combater o machismo cotidiano. Com vocês nosso ser complexo 26.
“…as classes não existem como entidades separadas que olham ao redor, acham um inimigo de classe e partem para a batalha. Ao contrário, para mim, as pessoas se vêem numa sociedade estruturada de um certo modo (por meio de relações de produção fundamentalmente), suportam a exploração (ou buscam manter o poder sobre os explorados), identificam os nós de interesses antagônicos, debatem-se em torno desses mesmos nós e, no curso de tal processo de luta, descobrem-se a si mesmo como uma classe…”
As peculiaridades dos ingleses e outros artigos E. P. Thompson Unicamp, 2001
1_O seu novo livro Vozes a favor do golpe! trata do discurso anticomunista durante a ditadura civil-militar no Brasil. Daria pra traçar alguma semelhança com a realidade política atual?
Com certeza, principalmente quando vemos setores conservadores da sociedade brasileira revisitar a imagem de combate ao comunismo procurando construir a imagem de que estão salvando o país. Nesse movimento reivindicam o nacionalismo, elemento central do anticomunismo no Brasil que foi usado tanto para justificar o golpe de 1937 dado por Getúlio Vargas e que instaurou a Ditadura do Estado Novo como em 1964 para derrubar João Goulart e mergulhar o país nos Anos de Chumbo.
2_O projeto de dominação da elite – que você apresenta em seu livro – a partir do discurso anticomunista do período de ditadura militar no Brasil poderia ter algum paralelo com o discurso midiático hoje?
Sim, pois na conjuntura que antecede ao golpe a elite busca construir sua chegada ao poder não só através das armas, mas também dos discursos. Coerção e consenso vão sendo produzidos para garantir a tomada do poder. Hoje, com a mídia ocupando cada vez mais espaços na política torna-se fundamental para a elite a produção de conteúdos midiáticos que busquem transformar seus interesses de classe em interesses supostamente coletivos.
3_Falando em discursos, o machismo está aí no nosso dia a dia. Como fazer para combatê-lo diariamente?
Com uma educação crítica dentro e fora das escolas. Gênero precisa ser debatido em todos os espaços, para que nosso país saia das taxas absurdas de práticas de violência contra as mulheres.
4_E essa discussão acerca do funk ser ou não cultura, ou de ser uma cultura menor? O que pensa sobre isso?
Funk é Cultura! Pessoas que tem dificuldade com esta afirmação ainda estão presas em uma visão de cultura baseada em gostos e extremamente elitizada. Não há hierarquização cultural, temos práticas culturais, suas experiências e seus registros, quem afirma o contrário disto não compreendeu o conceito de cultura.
5_Professora, ativista, pesquisadora, feminista, funkeira… e mãe da pequena Cecília. Seu dia tem quantas horas?
Meu dia, como o de muitas mulheres, tem infinitas horas de: trabalho, alegrias, estudo, angústia, culpa, amor, diversão e luta por uma sociedade diferente, menos acelerada na qual tudo isso caiba em 24h com 8h de sono. Mas por enquanto não está sendo assim. Hahaha.
Fanático pela Mocidade e pelo Flamengo, o jornalista e escritor Fábio Fabato é nosso ser complexo número 25. O co-autor de “Pra tudo começar na quinta-feira” explica a origem de seu apelido e de sua paixão pelo carnaval, arrisca um enredo caso fosse carnavalesco e ainda conta o motivo pelo qual não desfila pela Mocidade.
_Qual a história do apelido Fabato?
Fabato é o meu sobrenome advindo da região da Gália Cisalpina, lugar do totêmico Lucio Roscio Fabato, e anexado à Itália há um bom número de anos. Sabe-se, ainda, que um certo sujeito chamado Clodio Fabato assistiu à crucificação de Cristo e relatou o fato numa carta. Tudo isto, pasmem!, é verdade!, exceto o fato de que Fabato compõe meu sobrenome. Ele é mesmo um apelido – de infância – para me diferenciar dos colegas de classe (quando eu nasci, em razão do sucesso do então galã – e magrinho – Fábio Jr., havia mais Fábios que baratas…), formado pelas iniciais dos meus sobrenomes: Bastos e Torres.
_De onde vem essa paixão por carnaval?
De pai e mãe, que desfilavam pela Mocidade quando eu era guri. Achava uma doideira maravilhosa a minha casa ser invadida por índios e outra fantasias, e aquela gente toda partir para “combater” num lugar com pinta de autódromo, finalizado por um monumento em forma de bunda (Apoteose) e transmitido pela TV. Voltavam de lá contando vantagens, ganhavam todo ano. Foi paixão arrebatadora, invasora, definitiva. Deu nesse monstro louco por ziriguidum aqui.
UM LIVRO
“No dia em que iam matá-lo, Santiago Nasar se levantou às cinco e meia da manhã para esperar o barco em que chegaria o bispo”
Crônica de uma morte anunciada Gabriel García Márquez Record, 1981
_Se o Fabato fosse carnavalesco que enredo ele faria?
Engraçado, ontem tomava um chope com uns amigos e falávamos disso. Eu contei que adoraria uma coisa maluca de fundir a Fafá de Belém com uma proposta de redescobrimento do Brasil na contramão da história, acabando com as injustiças, pregando a igualdade de credos, cores, tudo. Por que a Fafá? Acho um símbolo de Brasil miscigenado, tal qual a Elza Soares, mas é que ela também tem aquele elo com Portugal, que completaria o meu enredo. Seria algo na linha “A rainha Fafá conduz a barca voadora do redescobrimento na contramão da história a partir da pátria outrora descoberta e hoje miscigenada, Brasil”. Terminaria em Portugal, claro. A nau voadora faria o sentido contrário de 1500 e flutuaria ao sabor músicas dela, como a “tempestade nuvem de lágrimas”, no “coração do agreste”, ficaria “p da vida” com a corrupção, diria que seu coração é vermelho, e acabaria na festa bonita, ó pá, aquela do Chico. Caraca! Que piração inclusiva maneira! Vou escrever este troço.
_Você é tão apaixonado por carnaval, por que a gente nunca te vê desfilar pela Mocidade?
Fui campeão em 1996 e desfilei até 2002. Depois, participei de alguns desfiles. Mas quando comecei a comentar por rádio e televisão, achei melhor ficar do lado de fora, contemplando a escola e as outras. Gosto dessa noção do todo de uma apresentação, assistir da raiz às pontas. Mas confesso: em 2017, quando a Mocidade voltou a ser competitiva, esperei a escola passar todinha por mim e… Ah…!, depois corri atrás. Foi bonito demais o seu reencontro com os bons carnavais, e caí dentro como o moleque de outras folias.
_Mocidade ou Flamengo? Qual dos dois define o mapa da vida do Fabato?
Mezzo calabresa, mezzo frango catupiry, 50 a 50, o côncavo e o convexo. O Flamengo me deixa mais triste em derrotas, e a Mocidade me fará o homem mais feliz do mundo caso vença. Diante do jejum de mais de 20 anos, acho que prefiro um título imediato dela. Mas o amor é dividido igualzinho, sem predileções. Pelo menos acho. Pelo menos até a hora do hepta (dele) ou hexa (dela). Aí faço o tira-teima existencial do coração vagabundo neste mundão de meu Deus.
Perguntamos à enorme equipe que trabalha na mórula (4 pessoas) as autoras lidas nos últimos dois anos. A partir disso fizemos uma lista com as recomendações. Não são os melhores livros, nem os mais importantes ou representativos. Esta é apenas uma lista de 10 livros que 4 pessoas bem diferentes, mas que adoram literatura, leram nos últimos meses e gostaram.
Nossa ideia aqui é ser diverso. Porque há livros de mulheres sobre tudo. Mulheres escrevem poemas, biografias, ensaios, romances, não-ficção, contos, livros-reportagem, quadrinhos… Mulheres escrevem best-sellers e independentes. O que as mulheres não conseguem é publicar em pé de igualdade com os homens.
Se 72% dos livros publicados no Brasil são de homens brancos, imaginamos que hoje, dia 8 de março, um bom presente é se perguntar: “quantos livros escritos por mulheres você leu no último ano”? Aproveita o dia para tirar uma autora da estante!
A marca de camisas Poeme-se realizou um desejo de muitos leitores da antologia “O meu lugar” e a capa do livro virou estampa.
A Poeme-se é conhecida por trabalhar com produtos literários de alta qualidade e que prezam pela diversidade. “A Poeme-se, empresa-verso que nasceu no subúrbio do Rio, tem uma ligação grande com o território e valoriza muito a dimensão simbólica e afetiva desenvolvidas nesses espaços. Exatamente por isso faz sentido uma parceria tão especial como essa”, conta Gledson Vinícius, fundador da marca, sobre a parceria com a mórula.
O Lançamento da coleção
Para o lançamento da coleção, além da camisa com a capa do livro, é possível adquirir camisetas de seis bairros presentes na antologia: Madureira, Realengo, Copacabana, Lapa, Vila Isabel e Tijuca.
A Poeme-se ainda lançou uma promoção, basta fotografar o lugar que você considera como seu e especial e marcar a hashtag #OMeuLugar para concorrer ao sorteio de algumas camisas. Mais informação aqui.
Com vocês, Leonor Macedo, a @subversiva, corintiana, mãe do Lucas e jornalista, nosso ser complexo #24
_O subtítulo do seu livro é “mãe é pra quem a gente pode contar tudo mas não conta nada”. Se soubesse mais da vida do Lucas você lançaria o quê, uma enciclopédia?
Acho que toda mãe poderia lançar uma enciclopédia do próprio filho, se a gente resolvesse abrir a boca (também sou filha que não partilha tudo com a própria mãe)!
UM LIVRO
“Poucas vezes me senti tão confortável no mundo. E, no entanto, sofria, por antecipação, o grande vazio que seria o resta da minha existência sem ela.
O que acontece é que, quando estou com você, eu me perdoo por todas as lutas que a vida venceu por pontos, e me esqueço completamente que gente como eu, no fim, acaba saindo mais cedo de bares, de brigas e de amores para não pagar a conta. Isso eu poderia ter dito a ela. Mas não disse.”
Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios Marçal Aquino Companhia das Letras, 2005
_Julio Bernardo [no texto apresentando seu livro] fala que você transforma maternidade em arte, assim como Sócrates dava passes de calcanhar. E no futebol, dá pra se comparar ao Doutor?
Talvez só no sonho de ver um futebol democrático e usado como instrumento transformador. Mas na habilidade para o futebol, minha nossa senhora. Eu até me arrisco e não jogo de todo mal, mas jamais me compararia ao meu grande ídolo corinthiano. Dentro e fora do campo.
_Você costuma dizer que tem nome de velha. O que seus pais falam sobre isso?
Eu transformei isso em uma piada, adoro meu nome. Quando era pequenina, eu sofria, queria um nome comum. Não me conformava em ter sido batizada Leonor, lembro que queria chamar Ana. Mas meu nome é uma homenagem a minha avó que não conheci e que tenho grandes afinidades. Meus pais sempre me contaram isso até eu aprender que era um nome quase exclusivo, praticamente só meu. Eles sabem que eu brinco com isso, então levam na brincadeira também.
_Um churrasco com cerveja gelada (sem TV) ou um jogo do Corinthians no estádio (sem cerveja)?
Se for um jogo do Corinthians no Pacaembu, não importa a falta de cerveja, o calor, ou a chuva. Não troco por nada. Agora, nessas novas arenas e frias, está difícil não preferir um churrasco com cerveja gelada (e o jogo do Corinthians no radinho).
_Diga aí um jogo do Corinthians inesquecível. E um “esquecível”.
Posso viver mil anos e nunca vou esquecer da final da Libertadores na Bombonera, em 2012. A primeira vez que pisei no estádio do Boca foi em um jogo deles, em uma viagem turística para Buenos Aires. Foi em 2007 e pensei que queria muito ver um jogo do Corinthians lá. Calhou de ser uma final de Libertadores, a nossa primeira, a invicta. E eu fui. Faltou só o Lucas do meu lado.
E esquecível? Quando o Corinthians foi eliminado pelo Palmeiras na Libertadores de 1999. Não gosto nem de lembrar.
No próximo dia 9 de março, uma quinta-feira, Leonor Macedo estará na Livraria da Vila (Fradique Coutinho) em São Paulo, autografando seu livro ENEAOTIL: mãe é pra quem a gente pode contar tudo, mas não conta nada. O livro reúne textos publicados no blog ENEAOTIL e outros inéditos sobre a vida de uma mãe solo – e ainda por cima aos 19 anos. Apesar das dificuldades, Leonor Macedo não perdeu o bom humor. Como ela lembra, começou a escrever sobre seu filho, o Lucas, quando ele tinha menos de dois anos e ela pouco mais de 20. “Estava descobrindo o mundo junto com ele. Jovem, mãe solteira, saindo das minhas próprias fraldas e trocando as fraldas de alguém”. Essa falta de experiência consegue nos fazer rir e chorar às vezes num mesmo texto. Como aponta Renata Corrêa no prefácio, este livro é um “não manual, cheio de humor, afeto, acolhimento. Um abraço gostoso de vai ficar tudo bem”.
Escrevia, imprimia e guardava em casa. Depois decidiu publicar um blog – o ENEAOTIL – com os relatos e foi quando percebeu que não estava só. Ao compartilhar suas histórias ajudava outras mulheres como ela. Com um texto leve, Leonor, corintiana roxa, conta as aventuras (suas e do Lucas) com um olhar de mãe preocupada, com medo, mas principalmente com muito amor pela sua cria. Ou como escreve Julio Bernardo na orelha, Leonor “transforma maternidade em arte, de maneira tão única quanto Doutor Sócrates dava seus inesquecíveis passes de calcanhar”.
Lucas, hoje com 15 anos, também participa do livro para além do personagem. É autor do desenho de capa, feito quando tinha três anos, e assina a quarta capa, onde diz que não se sentia envergonhado com a exposição de suas façanhas e que “o livro não é feito só das histórias. Ele é feito de muito amor e carinho que compartilhamos um pelo outro, além de muita camaradagem”.
Este é o livro de “uma mulher que jogou fora o roteiro e escolheu a si mesma como modelo”, lembra Renata no prefácio. E se a ideia original era um dia juntar todas as histórias que escreveu e entregar para o Lucas no seu aniversário de 21 anos, o presente chega com alguma antecedência.
_Sobre a autora
Leonor Macedo é mãe do Lucas e corintiana em tempo integral. Nas horas vagas é jornalista, roteirista e mantém o site Vila Pompeia, sobre o bairro onde vive. Como tem uma péssima memória, criou o blog ENEAOTIL contando suas peripécias com Lucas porque tinha medo de esquecer e não saber contar para ele sua própria história.
_Lançamento
DIA: 9 de março (quinta-feira)
HORÁRIO: 18:30h
LOCAL: Livraria da Vila
Rua Fradique Coutinho, 915
Vila Madalena – São Paulo-SP
Um dia teu filho é pequeno e nem alcança a maçaneta, muito menos o botão do 5º andar no elevador. Ele fica na ponta dos pés, ele se esforça, ele tenta, mas não vai a lugar algum sem você. No outro dia ele já faz o bigode, dá um tapa na tua bunda e diz que está saindo com os amigos.
Tua vontade é dizer ENE-A-O-TIL. Não, não e não. Na-na-ni-na-não. Que história é essa de sair sozinho? Quantos anos você acha que tem? Trinta?
Mas você sorri, diz que tudo bem, pede para ele dar notícias e não dar mais tapa na sua bunda. Implora para ele dar notícias, na verdade. E quando ele abre a porta, aperta o botão do elevador e cumprimenta os amigos na rua com aqueles soquinhos idiotas (você está vendo tudo da janela), só te resta torcer para ele voltar logo.
***
Quando eu tinha lá meus 12 anos, eu já ia sozinha para a escola, já andava de ônibus pela cidade, já ficava até tarde brincando na rua ou conversando com meus amigos na calçada. Já ia à padaria, ao shopping e ao cinema sozinha. Quando eu tinha 12 anos, minha mãe me liberou para viajar com a família de uma amiga, de carro, pelo interior do Paraná.
E eu queria mais! Aos 12 anos, eu já pedia para ficar até mais tarde nas festinhas. Já achava que meus pais não precisavam mais me buscar nos lugares (olha o mico!) e já fazia planos para ir a shows de rock do outro lado da cidade.
Não pensava em corações apertados e unhas roídas de preocupação, só pensava em ser cada dia mais livre. Crescer significava liberdade (só anos depois eu percebi que crescer significava contas para pagar).
Também não pensava em ser mãe, mas lembro que meus primeiros pensamentos em relação a isso foram de que eu daria toda a liberdade do mundo aos meus filhos.
– Eles vão poder ficar até tarde nas festinhas!
– Eles vão poder ir a shows de rock sozinhos com 7 anos!
– Eles vão poder voltar pra casa sozinhos de madrugada!
– Eles vão poder viajar pela América do Sul aos 5 anos, e sozinhos, se eles quiserem!
Aí eu pari.
***
Veja bem, não sou uma mãe neurótica. Meu filho não é proibido de ir aos lugares sozinho e aos 12 vai poder pegar ônibus para ir à escola e ficar até mais tarde nas festinhas tentando dar o primeiro beijo. Mas não é tão tranquilo passar por esse momento de deixá-lo ir.
Quando ele foi sozinho pela primeira vez ao mercado, no ano passado, fiquei com aquela sensação de que o André Marques* tinha sentado em cima do meu peito e acho que só consegui respirar quando ele voltou. Dia desses nós estávamos chegando da escola e ele me perguntou:
– Aos 15, vou poder chegar em casa umas 2h, 3h da manhã, né?
Me imaginei completamente careca, cheia de olheiras e alcoólatra. Respirei fundo e disse:
– Vamos ver…
Ser mãe é isso mesmo: é uma briga constante entre emoção e razão, a vontade egoísta de não deixá-lo ir e a lembrança da vida que você queria ter quando tinha a idade dele. Então, provavelmente, eu deixe e finja que estou dormindo (depois de tomar umas e outras) quando ele chegar às 2h (às 3h, nem pensar!).
A Mórula tem uma promoção especial para os apaixonados por Carnaval. Durante a época de folia, o combo “Pra tudo começar na quinta-feira”e “O samba serpenteia com o Escravos da Mauá” sai por apenas R$60.
Sobre os livros
Pra tudo começar na quinta-feira
Este é um trabalho com um recorte temático e espacial: ele versa sobre os enredos das escolas de samba do Rio de Janeiro e os seus criadores. A primeira parte aborda a conexão que existe entre os enredos das agremiações e os respectivos contextos históricos em que foram apresentados. A segunda parte apresenta e analisa a biografia profissional e a contribuição dos maiores carnavalescos, criadores de enredos, para o crescimento e transformação das escolas de samba do Rio de Janeiro desde 1960, quando a influência desses personagens passa a ser decisiva (e polêmica) para os rumos da festa.
A autoria é de Luiz Antonio Simas e Fábio Fabato. Simas tem diversos livros e artigos publicados sobre a cidade do Rio de Janeiro e as culturas do samba e do carnaval, foi jurado do Estandarte de Ouro do jornal O Globo e é colunista do jornal O Dia. Fabato é jornalista e escritor, foi comentarista de carnaval da Rede Bandeirantes de Televisão e da Super Rádio Tupi, e também vice-presidente cultural da Mocidade Independente de Padre Miguel. É também curador da série de livros Família do Carnaval, biografias em crônicas das principais agremiações cariocas.
O samba serpenteia com o Escravos da Mauá
Caroline Couto investiga como o bloco carnavalesco Escravos da Mauá tornou-se um fenômeno que chegou a atrair 20 mil pessoas em seus desfiles e mais de 2 mil nas rodas de samba às sextas-feiras no Largo de São Francisco da Prainha. A autora analisa a relação do bloco e de seus integrantes com a região Portuária do Rio de Janeiro, antes conhecida por sua degradação e história. Seguindo as pistas das pedras pisadas do cais, o Escravos foi crescendo ao invocar o passado da região, reinventando a tradição e reafirmando uma ideia de cidade que passa pelo encontro e afeto. Caroline segue a mesma trilha para, através da história do Escravos, entender o próprio contexto urbano que lhes serve de pano de fundo e força motriz.
A autora Caroline Couto é doutoranda em ciências sociais pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e mestre em antropologia pela Université de Montreal (UdeM), Canadá, se interessa por temas que envolvem cultura e política, consumo, performance e emoções. Publicou La culture comme ressource dans le Port de Rio de Janeiro: des groupes de samba et de carnaval au sein d’un processus de réaménagement urbain (Éditions Universitaires Européennes, 2015).
A Mórula está com uma nova promoção em fevereiro: na compra de qualquer livro de Luiz Antonio Simas, você concorre à aula “Dos apaches e onças pintadas na Guanabara ao dilema da domesticação pelo consumo”, dia 15/02, na Casa Porto.
Sobre a aula do Simas
A aula faz parte da série Canjiras de Momo, que pretende apresentar o Carnaval não apenas como um fuzuê determinado pelo calendário, mas como uma festa onde as relações tensas e intensas entre as diferentes camadas sociais disputam espaços e criam formas de vida. A reflexão será fundamentada na ideia do Carnaval como canjira. A Canjira é um conjunto de danças rituais, realizadas em um grande círculo, nos terreiros angolo-congoleses e nas casas de umbanda e encantaria. A expressão é derivada do umbundo tjila – “dançar”.
A cidade, no Carnaval, vira canjira: um território-terreiro tenso e intenso de falanges diferentes, feito de afeições e confrontos entre batuques, jogos do corpo, beijos, furtos, comidas e cantos. Morte e vida cariocas.
Entrudos, corsos, batalhas de confetes e flores, festa da Penha, rodas de capoeira, blocos de arenga, rodas de pernada, ranchos, cordões, grandes sociedades, bailes de mascarados, escolas de samba, onças do Catumbi e caciques de Ramos dão pistas para se entender como as tensões sociais – disfarçadas ou exacerbadas em festas – bordam as histórias da cidade-terreiro carioca.