Como o anticomunismo pode ter tamanha longevidade e permanecer eficaz como instrumento contrarrevolucionário em pleno século XXI? Como ele pode ser acionado para enfrentar uma composição política que timidamente ousou tocar na histórica desigualdade social brasileira? Como a farsa foi atualizada de modo a englobar no manto do comunismo a ser combatido as demandas feministas, antirracistas, anti-LGBTfobia?
Vozes a favor do Golpe, de Pâmella Passos, é essencial para respondermos a essas questões. Ao acompanhar a trama da fundação e atuação do Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (Ipês), a autora nos dá pistas sobre a extrema competência de nossa elite em forjar e atualizar um projeto de dominação eficaz e duradouro.
A preparação do golpe de 1964 precisou da propagação do medo e de uma propaganda que associava o governo João Goulart à corrupção (inclusive moral) e à ameaça comunista. No discurso foi construída a materialidade que as armas sacramentaram. Igreja Católica, mídia hegemônica, empresários, latifundiários, intelectuais organizaram o caminho por onde os tanques triunfaram. A brutal desigualdade social brasileira segue firme e capaz de articular novos golpes contra qualquer projeto político que tente desafiá-la, ainda que de modo modesto. Tragédia e farsa a perpetuar um bem-sucedido projeto de classe, racista e patriarcal, produzindo permanentemente a morte, em nome de Deus.
ADRIANA FACINA
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