A paixão segundo Antonio Gramsci é um livro que nos abre janelas para pensar a importância dos afetos e das emoções na política, particularmente nos processos revolucionários. Eduardo Granja Coutinho deslinda com brilhantismo a centralidade da paixão na questão chave da vida e da obra de Gramsci: as condições subjetivas da formação da vontade nacional-popular como base organicamente imprescindível à mobilização das classes trabalhadoras e subalternas e ao exercício de seu protagonismo histórico na luta pela hegemonia político-cultural. Abre janelas quando põe a filosofia da práxis de Gramsci na mais viva relação com figuras tão distintas como Maquiavel, La Boétie, Hegel, Lenin, Sorel, Reich, Mariátegui e Pasolini, enriquecendo e amplificando em múltiplas direções e sugestões as infinitas ressonâncias de sua filosofia da práxis. Abre janelas quando ilumina as razões da dificuldade do marxismo tradicional em pensar tudo quanto há de irracional na “servidão voluntária” dos indivíduos e das massas ao longo da história. Quando nos convida a pensar numa das mais importantes questões que, atravessando os tempos, nos desafia hoje, talvez mais que nunca, em nossos tempos de crise completa: como podem os indivíduos pensar e agir em contradição brutal com seus próprios interesses e condições de existência? E nos faz pensar, para além da pura materialidade dos processos econômicos e das contradições do sistema do capital, que não pode haver revolução social sem que os sujeitos nela engajados sejam visceralmente movidos pela força incomensurável de paixões, crenças e esperanças verdadeiramente “sobre-humanas”.
RODRIGO DANTAS
GRAMSCI, HEGEMONIA, MARXISMO