Este livro principiou em mim seu fascínio, pelo título. Prendeu meus olhos e minha atenção como se fora um par de ganchos macios: Algibeira dos olhos. A palavra antiga (algibeira) já me disse muito da mão que a escreveu, da mente que a pensou como repositório dos tesouros dos olhos. Poeta jovem que remete os sonhares e as visões a uma algibeira, em desuso para a maioria, forçosamente tem algo de profundo em sua visão de mundo.
Foi com essa profundidade que Tácio Pimenta me apresentou-se poeta. Nada da melosidade das “poesias” que se veem espalhadas, empapadas do gosto popular; nada de maquiagem das rimas nem métrica silábica, a impor ou justificar o poema; nada que empobreça o sonhar do poeta. Algibeira dos olhos, alinhavado, cerzido, arrematado pela linha poética de Tácio Pimenta foi configurado em sete compartimentos, cada um uma fase de sua vivência, comportando os tesouros guardados na algibeira dos olhos em trama de memória, e além: vê no outro a velhice que (ainda) não tem. E vê nos outros poetas os pontos casados (pontos de cadeia) que tem. E os nomeia, e os homenageia numa humildade terna, passaporte suficiente para o estrear e o estrelato.
Osmar Casagrande Campos
POESIA