COLEÇÃO DIABO NA AULA | VOLUME 7
Li duas línguas como quem desenha uma árvore genealógica, séculos ligando-se uns aos outros. Em vez de familiares, minha árvore era feita de palavras. Gabriela experimenta um pensamento sobre a formação das línguas portuguesas do Brasil, seus processos históricos cheios de contaminações e metaplasmos, os muitos idiomas que as constituem. E também a vibração mais imediata, sempre nova, que se instaura toda vez que alguém anuncia algo. Porque a língua portuguesa é mais de uma, é tantas quanto há falantes de português. E nomear as falantes importa: toda vez que os nomes mudam, as línguas se multiplicam. Temos ainda uma espécie de jogo de nomeação em que Gabriela investiga os efeitos de dar ou não nome às coisas, de mudar, espelhar e subtrair nomes. Ou de encontrar os nomes que, escondidos, fincaram raízes nos territórios, se confundiram. Somos convidados a pensar com as palavras: língua é ao mesmo tempo linguagem (memória, experiência, seus fenômenos) e órgão do corpo, e boca congrega a fome e a vontade de falar. Aqui, fala-se sempre pela fome, com fome.
Juliana Travassos
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A coleção diabo na aula – organizada por Carlos Augusto Lima e Manoel Ricardo de Lima – vem de uma expressão retirada do poema cultura francesa, de Drummond, “aluno de moral-zero”, que presta sentido a Murilo, entre Alfred Jarry e Brigitte Bardot. Murilo bagunça a cena, desmonta o mestre, este é o jogo: errar e desobedecer generosamente toda e qualquer moral, aprendizagem infinita e impensada, “gestos impossíveis”.
DIABO NA AULA, POESIA