O Le Monde Diplomatique Brasil publicou em sua edição de janeiro uma resenha do livro “A comunicação do oprimido e outros ensaios“, de Eduardo Granja Coutinho. A resenha foi escrita por Felipe Canova Gonçalves, estudante e integrante do coletivo nacional de cultura do MST.
Leia o texto abaixo.
A comunicação do oprimido e outros ensaios
Eduardo Granja Coutinho, professor da UFRJ, apresenta em seu livro um percurso própriono campo da comunicação. São onze ensaios que partem do pressuposto da comunicação enquanto cultura, e vice-versa, entendidas as duas como parte central do conflito entre sujeitos políticos que disputam a hegemonia na sociedade. Esforço raro – e, porque não, contra-hegemônico – em um campo do conhecimento caro ao pensamento pós-moderno, no qual o “culturalismo” e a fragmentação das “narrativas”, que negam o caráter histórico da vida social,parecem tomar conta das reflexões na academia.
Atento às mediações entre cultura, comunicação e os processos sociais, Coutinho articula de forma precisaseus textos sob quatro eixos temáticos: a comunicação popular, num sentido amplo que incorpora elementos como o samba, a linguagem suburbana, os protestos nas redes sociais e a mídia comunitária, todos relacionados à disputa política e ideológica com a cultura hegemônica; a questão cultural na obra de Carlos Nelson Coutinho e Muniz Sodré, ambos orientadores do autor em sua trajetória acadêmica; os processos hegemônicos e contra-hegemônicos na mídia brasileira e latino-americana; e a questão da reificação da cultura, relacionada à problemática da hegemonia.
O tratamento desse último tema expõe um dos méritos do livro. O autor dialoga permanentemente com as contribuições dos pensadores marxistas Gramsci e Lukács, resgatando a potencialidade original de suas contribuições. Ao mesmo tempo em que traz à luz a complementaridade entre os processos de reificação e hegemonia, como força ativa de manutenção da ordem vigente, Coutinho aposta na necessidade de se retomar o “espírito de cisão” gramsciano, passo fundamental para a contra-hegemonia e a conquista da personalidade histórica dos oprimidos.