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A comunicação do oprimido em resenha da Poli

A revista Poli, publicação da Escola Politécnica da Fiocruz, publicou em sua primeira edição de 2015 uma resenha do livro “A Comunicação do oprimido e outros ensaios”. A resenha é de Erick Dau, jornalista e aluno do programa de pós-graduação0 em comunicação e cultura da UFRJ. Leia o texto na íntegra ou na própria revista através do link: bit.ly/16a14bi

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Não passa ainda de sua pré-adolescência o século 21, e já é assaz eloquente a respeito de seu futuro. A se julgar pela infância, cheia de profundas crises e graves traumas, sua idade adulta não será provavelmente um mar de tranquilidade como seus ancestrais repetidamente previram e – cinicamente – desejaram. Para uma breve ideia, faça-se lembrar que sua primeira guerra, a invasão norte-americana ao Afeganistão, ainda hoje não está terminada.

As múltiplas faces da história, contudo, demandam um olhar mais otimista para esse despertar de século. As rebeliões do mundo árabe, o despertar da juventude europeia e aqui, no Brasil, a tomada das ruas no movimento de junho – todos estes episódios trazem consigo importantes lições. Sem dúvida, uma das mais fundamentais e importantes tem a ver com o proeminente papel da comunicação nos processos subversivos do capitalismo mundializado.

A Comunicação do Oprimido, novo livro de Eduardo Granja Coutinho, vem contribuir para corrigir o descompasso político e temporal entre os movimentos sociais organizados no Brasil e o papel crucial da comunicação em suas lutas. Reunindo 11 artigos atravessados pela questão da via pacífica de nossa formação social e amplamente referenciados pela obra de Antonio Gramsci, o livro discute a comunicação no
Brasil de maneira ampla.

Deste modo, analisa por exemplo a fala de Bezerra da Silva como forma de contestação da hegemonia pela música; traz a crítica literária de Carlos Nelson Coutinho para traçar o panorama cultural literário nacional; evoca o pensamento de Muniz Sodré no reconhecimento da cultura negra – em especial do samba – na fundação de uma cultura brasileira.

É claro que um trabalho como este não poderia deixar de falar da Rede Globo – fato raríssimo entre os intelectuais da comunicação no Brasil, mesmo os de esquerda. Em ensaio dedicado ao tema, Coutinho traça precisamente as relações entre a TV Globo e a ditadura militar no país.

O conjunto do livro está, de fato, baseado em uma análise histórica da formação cultural brasileira – no campo da televisão, da linguagem, da música, da literatura, da imprensa – aliada às características fundamentais
dos processos de desenvolvimento do país. Por isso, o livro tem o grande mérito de trazer para o lado esquerdo deste terreno – o da luta de classes – uma certeza que há muito já é conhecida pelos donos do
poder: a comunicação é fator fundamental para a vitória de qualquer projeto político – condição que se aprofunda conforme avançam as técnicas e os meios de produção específicos da área comunicacional e, com eles, o controle social dos discursos.

“Em última análise, todo processo de hegemonia é, necessariamente, um processo de comunicação. […] Pela comunicação, formam-se e transformam-se as ideologias que agem ética e politicamente na transformação da história.”, diz o autor, num postulado que se mostra especialmente correto para este século pré-adolescente.

Não há, entre os ensaios, grandes promessas ou fórmulas para a salvação da humanidade. Ao contrário, o problema da comunicação como meio de dominação e hegemonia é tratado com pinça e lentes de aumento, nos seus mínimos detalhes. Nesta minúcia, inspirada pela ciência marxista, Coutinho deixa transparecer, ao lado da oportunidade e da responsabilidade dos movimentos sociais de se apropriarem da comunicação, todas as dificuldades e as idiossincrasias que tamanha tarefa encarna.

Se os ensaios mostram que, por um lado, a comunicação serviu à criação do consenso entre as classes subalternas no país, por outro, ela também foi e deve ser o meio de propagação da luta contra-hegemônica

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