Há vários caminhos para acessar o passado, porém, nenhum deles permanece imune a tensões, conflitos e disputas. Por isso, lembranças e memórias coletivas tornam-se um instrumento de fundamental importância, não apenas para pensar relações sociais, políticas e de poder, como também situações traumáticas, que envolvem violências,
agressões e apagamentos. O ato de rememorar sempre é seletivo: lembrar para uns e esquecer para outros. O livro organizado por Myrian Sepúlveda dos Santos, Ana Paula Fernandes e Gabriel Cid lança esse desafio: transformar o indizível em dizível. É essa a proposta de Lugares de memórias difíceis no Rio de Janeiro, um conjunto heterogêneo de textos que problematizam a produção de desigualdades, de injustiças sociais, perseguições políticas, exclusões, racismo, remoções de populações de seus lugares de origem, chacinas, genocídios, desastres socioambientais, desaparecimentos e outras atrocidades cometidas pelo Estado ou com a conivência dele. Mas as contribuições reunidas
no livro deixam também entrever um fio de esperança nesses lugares de memórias difíceis do não dito, especialmente quando nesses mesmos lugares emergem novas vozes e memórias plurais de sujeitos historicamente subalternizados, excluídos e invisibilizados, e que no atual contexto político reivindicam seus direitos fundamentais, na luta por uma democracia mais participativa, com políticas reparatórias, compensatórias e inclusivas.
Antonio Motta
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