Como pensar as relações entre territórios e musicalidades? De que maneiras, imersos em rituais coletivos que criam incessantemente modos de vida, construímos identidades a partir de uma encruzilhada em que o ser individual e a experiência da alteridade — o estar com o outro – se entrelaçam de forma a construir sentidos para a existência?
A música aqui se apresenta como um fato social completo de múltiplas implicações: corporais, sensoriais, políticas, identitárias, espirituais, e em constante relação com a territorialidade. Neste sentido, a geografia vai cerzindo essa multiplicidade a partir da nítida relação de afeto que Alessandro Dozena, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, estabelece com aquilo que estuda: o armorial sertanejo, as falas diversas do tambor, os sambas, as conexões identitárias que a música produzida no Brasil estabelece com certo imaginário de pertencimento ao país.
Mais do que isso, os artigos que compõem este livro se inscrevem em uma dimensão pedagógica de alcance fundamental. O autor escapa das armadilhas que encaram o território de forma amorfa, sem considerar as práticas diversas de mulheres, homens e crianças que acabam construindo o sentido mesmo do que é pertencer ao chão.
Mais do que apenas visto, o mundo que Dozena apresenta é ampliado: ele é também escutado, cantado, dançado, praticado de forma tensa e intensa, numa dimensão festeira que dá sentido de permanência à aventura provisória de invenção da vida.
Luiz Antonio Simas
GEOGRAFIA, MÚSICA