Mães também podem namorar
Mães também podem namorar (special edition de Dia dos Namorados) é uma crônica de Leonor Macedo, presente no livro Eneaotil.
Eu e o pai do Lucas namoramos por quase dois anos. Quando nosso filho era bem pequeno, com uns três meses, a gente se separou. Não chegamos a morar juntos, éramos muito novos, duros, confusos, mas foi como uma separação, e não um término de namoro comum, pois já havia um molequinho na jogada.
Depois disso, ele conheceu a Thaís, namoraram por 8 anos e se casaram no ano passado. Eu fiz o contrário: namorei vários caras, nunca me casei e acho que nunca vou casar. Calma, isso não é uma queixa desesperada de quem está desistindo da vida porque ainda está encalhada. Não casar é uma opção e estou muito feliz com ela, obrigada.
Parece que quando uma mulher se torna mãe solteira, ela tem a obrigação de passar o resto de seus dias procurando um marido. Um macho provedor que dê conta de gerenciar a família e de ensinar aos pequenos como é que se faz, como é que se vive. E mais: no imaginário coletivo, só um marido seria capaz de devolver a essa mãe solteira o gostinho de ser mulher, de passar pelos carros se olhando nas janelas e se sentir desejada novamente.
Veja, esse também não é um texto de quem tem a convicção de que fez a escolha certa, de quem sataniza casamentos e de quem é uma solteira irremediável. Longe de mim, eu adoro ter alguém.
Por esse motivo, eu já namorei muitas vezes, com muitos caras diferentes. Sou praticamente um Martinho da Vila de saias. E todas, absolutamente TODAS as vezes que eu engatava uma relação, eu ouvia a mesma pergunta:
– Mas você vai apresentar o cara para o Lucas? Não tem medo de confundir a cabeça dele?
No começo, batia aquela culpa cristã. Será? Será que é muito cedo para apresentar um novo namorado? E quem determina esse tempo? E depois, se terminar, como é que vai ser para o Lucas?
Como não existe um Manual Básico para Mães Solteiras, tive que ver para crer. Precisei tirar o menino do plástico bolha e deixá-lo viver: conhecer as pessoas, gostar ou não delas e se despedir, mesmo contra a vontade, às vezes. Pois é assim que é a vida, desde o dia em que a gente nasce até o dia em que a gente morre. Num dia, nós escrevemos nas capas dos cadernos das pessoas que estaremos juntos até morrermos, mas bastam alguns meses de férias para perdermos totalmente o contato com aquele amigo inseparável. E sobrevivemos, não?
Desde que me separei do pai do Lucas, meu filho conheceu todos os namorados que eu tive. De alguns ele gostou mais, de outros, menos. Alguns viraram seus amigos e com esses até hoje ele conversa, mesmo depois de a relação ter ido à falência.
Luquinhas virou praticamente o meu filtro: só valeria a pena entrar no novo namoro se o cara topasse o fato de que eu sou uma mãe solteira, de que a cicatriz da minha cesariana não sairá com o tempo, de que eu não estou disponível somente para cinemas noturnos, trepadas, amassos, bebedeiras, festas, viagens românticas. De que a gente pode fazer tudo isso, mas também tem que ir ao parque, às festinhas de criança, levar ao médico de madrugada, ficar em casa no feriado esperando o pequeno chegar da casa do amiguinho. Só namorei quem entendeu que, desde o dia 12 de novembro de 2001, eu não sou mais sozinha, nem nunca mais serei.
Quando o meu namoro com o Daniel acabou, o mais conturbado de todos eles e a relação em que o Lucas mais esteve envolvido, foi difícil contar ao meu menino. Porque para ele o Daniel significava dias na praia, brincadeiras, e ainda tinha a família toda do cara que ele havia conhecido e adorado. Foram dois anos de convivência intensa.
O Lucas tinha 7 anos quando esse meu namoro ruiu, de uma forma terrivelmente dolorida. Lembro-me de ter entrado no quarto dele e, aos prantos, contado que tínhamos terminado. Lucas me fez deitar em seu colo, acarinhou meus cabelos e disse que eu ficaria bem.
Ali eu entendi quem é que eu estava criando: um moleque emocionalmente inteligente, que poderia ficar confuso com truques de mágica e ilusionismo, com regras gramaticais, com frações, mas não com a vontade da mãe dele de ser feliz.
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