Nosso ser complexo desta semana é uma mulher que, em menos de 30 segundos, desafiou a poderosa Fifa e ainda fez sua imagem correr o mundo. Cláudia Wer é atriz, mora no Rio e até a cerimônia de encerramento da Copa das Confederações era mais uma entre tantos voluntários do evento.
A essa altura todo mundo já sabe o que ela fez, mas nós estávamos muito curiosos para saber de onde ela tirou tamanha coragem. O PTSC #8 mata nossa curiosidade e ainda traz outras opiniões de Cláudia Wer, a bolinha subversiva que pensou em deixar de ser voluntária quando os protestos na ruas cresceram, mas viu ali uma chance de protestar ainda mais.
_Por que você decidiu ser voluntária da Fifa?
O que me impulsionou a ser voluntária foi a causa – o futebol. O futebol existe muito antes da Fifa. Aliás, a gênese do voluntariado é a causa e não a grana (alguns desavisados pensam que as pessoas só trabalham por dinheiro). Soma-se a isso a experiência, poder conhecer outras pessoas, outros profissionais. Ao mesmo tempo os protestos nas ruas se avolumaram e eu já participava deles, pensei em sair, aí me ocorreu que talvez minha permanência poderia somar ao movimento das ruas.
_De onde surgiu a ideia, aparentemente absurda, de levantar um cartaz num território da Fifa, sendo que a Fifa abomina manifestações políticas?
A ideia foi levar a voz das ruas pro Maraca. Na verdade não pensei em Fifa, pensei sim nos excelentes profissionais que estavam lá trabalhando e isso apertou meu coração, mas resolvi focar no coletivo, que tem vivido dias tão difíceis.
_ Por que você quer a anulação da privatização do Maracanã?
Elton (meu amigo que segurou a faixa e a confeccionou) lançou o tema e comprei a ideia. Achei importante defender o Maraca dentro do território do Maraca, fazendo pipocar questões relevantes sobre os custos que envolveram a reforma que passa de 1 bilhão, a inaceitável privatização, e também os gastos com a Copa. Ou seja, a temática era diretamente relacionada à festa e foi também levantada pela população [nas ruas]. Não sou contra o futebol nem contra a Copa. Sou contra uma máquina nefasta e perversa que utiliza eventos como esse para interesses de poucos usando dinheiro público.
UMA FRASE
A frase escolhida por Cláudia é de Eduardo Galeano e foi dita durante uma entrevista do escritor para jovens da Catalunha.
“Este mundo de merda está grávido de outro.”
_Depois de levantar o cartaz você aparece no vídeo gritando. O que você gritava? Por que você voltou depois pro seu lugar como se nada tivesse acontecido?
“Não à privatização do Maraca, o Maraca é nosso”. A faixa não foi vista por todos, tentei levar o recado pra gente do outro lado. Pensamos em levantar a faixa nos segundos finais da coreografia, na formação de saída do grupo. Seria levantar, tentar virar a faixa e voltar pra formação porque só conhecíamos um único caminho de saída possível. Foi quando me veio o coordenador e pediu pra eu me retirar imediatamente. Como já havia passado a mensagem e a faixa tinha sido arrancada da gente, achei por bem me retirar do campo.
_A Copa do mundo é nossa?
Penso que cancelar a Copa poderia trazer um prejuízo adicional por conta da multa prevista nesse caso, mas não é opção descartada. O que não invalida a necessidade de imediata investigação dos gastos com a Copa em todos os níveis de governo e responsabilização. Queremos nomes, julgamento, penalização aplicada e devolução do dinheiro devido, mediante resultados dos processos.