Jailson de Souza
Marcus Faustini
Jorge Luiz Barbosa
_Em coletânea de 19 artigos, Jailson de Souza e Silva, Jorge Luiz Barbosa e Marcus Vinícius Faustini refletem sobre um novo carioca
_Autores criam o conceito “novo carioca” e debatem a euforia do recente boom de desenvolvimento urbano do Rio
_Dignidade humana e reconhecimento das favelas como territórios centrais da cidade são temas do livro
A ideia é clara: consolida-se um novo modo de ser e estar no Rio de Janeiro, pautado pelo reconhecimento do outro e da diferença. O desafio desta nova leva de cariocas é garantir a dignidade humana na construção diária da cidade e suas experiências como moradores e cidadãos. Examinar criticamente e de forma propositiva este recente perfil de habitante da cidade maravilhosa é o que propõe o livro “O novo carioca” (Mórula Editorial, 220 páginas), dos geógrafos, professores universitários e fundadores do Observatório de Favelas, Jailson de Souza e Silva e Jorge Luiz Barbosa, e do cineasta, escritor e diretor teatral Marcus Vinícius Faustini. A obra, que será lançada no dia 16 de outubro, às 18h, no Centro Cultural Justiça Federal, reúne 19 artigos escritos ao longo dos últimos 10 anos pelos três intelectuais nascidos e criados na periferia do Rio. O prefácio é do jornalista Francisco Bosco.
Jailson, Jorge e Faustini têm uma longa trajetória de inserção em trabalhos ligados a movimentos de direitos humanos e socioculturais na cidade. Trazem para a centralidade do livro o conceito “novo carioca”, isto é, “um sujeito com mobilidade para circular nos diversos territórios urbanos, produzir experiências que envolvam atores de diversos lugares, valorizar e legitimar as diferenças, o direito à autenticidade e a importância de defender a igualdade da dignidade humana”, como definem.
Os 19 textos da obra têm como eixo a proposta de um novo projeto de cidade, que rompa com as maneiras tradicionais e fragmentárias de pensar o urbano e as práticas sociais. O livro inova ao refletir as atuais mudanças do Rio com foco, por exemplo, na compreensão de que favela é cidade e território central de sua constituição. Outras ideias de fôlego são destacadas por Francisco Bosco: “as noções decisivas de ‘discurso da ausência’, ‘morada’ e ‘caos como imago urbis’ formam uma espécie de espinha dorsal do pensamento do livro”.
Fluxos financeiros em intensa movimentação, aproximação de megaeventos esportivos internacionais e a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) são exemplos de mudanças que marcam o cenário do Rio de Janeiro, agindo diretamente na forma como o carioca concebe e olha o seu lugar. Uma série de questões urbanas daí levantadas dá forma ao debate de Jailson, Jorge e Faustini.
Contra a euforia pronta, geralmente anunciada nos discursos midiáticos sobre o desenvolvimento socioeconômico do Rio de Janeiro, esta coletânea se volta para a observação de que o novo ser carioca, “utópico/concreto”, só efetivamente construirá uma cidade plena, sem fronteiras territoriais e simbólicas, ao tomar consciência de que sozinho não é possível habitá-la, transitá-la e pertencê-la social, humana e eticamente.
“O novo carioca” se propõe a ser um guia para pensamentos, concepções e discussões sobre o Rio de Janeiro dos próximos anos, ajudando cidadãos, pesquisadores e gestores públicos na elaboração de olhares e ações, para além de uma rasa celebração das mudanças que vemos e vivemos hoje na cidade.
_SOBRE OS AUTORES:
Jailson de Souza e Silva é geógrafo, doutor em Sociologia da Educação e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF). É fundador do Observatório de Favelas e autor de “‘Por que uns e não outros?’: caminhada de jovens pobres para a universidade” (7Letras) e “Favela. Alegria e dor na cidade” (Senac Rio/X-Brasil).
Jorge Luiz Barbosa é geógrafo, doutor em Geografia, professor da Universidade Federal Fluminense e fundador do Observatório de Favelas. É autor de “Favela. Alegria e dor na cidade” (Senac Rio/X-Brasil) e tem capítulos de livros e artigos publicados em diversas coletâneas.
Marcus Vinícius Faustini é cineasta, escritor e diretor teatral. Fundou o Reperiferia, a Escola Livre de Teatro, a Escola Livre de Cinema e a Escola Livre da Palavra. É autor do “Guia afetivo da periferia” (Aeroplano) e coordena a Agência de Redes para a Juventude.