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Um futebol mais previsível?

A Copa acabou, o Brasil não levou, a França ganhou e o jornalista Augusto Martins fala da sua rendição ao árbitro de vídeo, o tal VAR, que embora considere um atentado à narratividade do jogo, parece ser um caminho sem volta para o que o futebol tem se tornado.

O árbitro argentino Nestor Pitana durante a final da Copa de 2018

Rendição

Esta final da Copa do Mundo marcou o momento em que eu me rendi ao árbitro de vídeo, o chamado VAR. Mais do que isso, acho que começo a me conformar que o futebol não é mais o que era há décadas atrás, e, infelizmente, não vai voltar a ser. E o VAR é mais resultado disso do que causa.

Me explicarei de forma breve, para evitar tornar o meu lamento enfadonho. No ótimo livro “Veneno Remédio: O futebol e o Brasil” (2008), José Miguel Wisnik diz já no capítulo introdutório que o futebol “abre-se, mais do que os demais esportes, a uma margem narrativa que admite o épico, o dramático, o trágico, o lírico, o cômico, o paródico”.

Ele continua: “Nele, o tempo da competição é mais distendido, alargado e contínuo do que no futebol americano, no vôlei, no basquete ou no tênis. (…) Não quero dizer que os outros esportes sejam desinteressantes – muito ao contrário. Mas é que neles, em geral, há um foco mais cerrado sobre cada momento contábil, em que se traduz em números ou em ganho de território o embate frontal de performances e competências. (…), temos uma série de alternâncias de ataques e defesas, de confrontos repicados, individuais”.

Para mim, o VAR é um atentado à “narratividade” do futebol descrita por Wisnick. Se em esportes como futebol americano, rúgbi e tênis é possível encaixar o árbitro de vídeo nas inúmeras pausas previstas, no futebol o VAR é por demais intrusivo e quebra a continuidade do jogo. Como se isso não fosse suficiente, esta Copa mostrou que, com ou sem VAR, as decisões permanecerão subjetivas, passíveis de interpretação e, portanto, polêmicas. Bem… Isso não importa mais. Como disse, eu me rendi. Se nas primeiras rodadas da Copa eu poderia escrever um tratado contra o VAR, isso não vem mais ao caso agora.

No intervalo da final da Copa deste domingo, me veio o lampejo. No primeiro tempo, eu vi a França sem jogar nada marcar um gol de bola parada. Depois, a Croácia, que jogava melhor, mas não criava chances, empatou também na bola parada. No fim da primeira etapa, o juizão se atrapalhou com o VAR e deu um pênalti mandrake para a França, após um escanteio. Pois, bem. Num futebol em que os lances de bola parada são cada vez mais importantes (leio nos sites que esta foi a Copa com mais gols de bola parada) e em que trancar os espaços do campo tem mais valor do que a posse de bola, o árbitro de vídeo não é tão anômalo assim. No futebol do jogo picado, o ritual do juiz correndo para o monitor ao lado do campo enquanto o estádio todo espera o que está por vir não é tão patético assim.

Lembro do livro de Wisnik e não posso evitar de pensar se o futebol não está ficando mais fásico. Não, obviamente, como o vôlei ou o basquete, não que tenha perdido por completo a tal narratividade, mas se não está ficando mais previsível, se não está assim se transformando para pior. Pode ser o nostalgismo típico da velhice me atacando já na meia-idade, mas na próxima Copa eu acho que vou de Netflix.

 

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