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PTSC #6 :: Rodrigo Bodão

Foto: Francisco Valdean

O poeta, letrista de sambas e ladainhas, rubro-negro, batuqueiro, psicólogo e pesquisador Rodrigo Bodão é o novo entrevistado do PTSC. Com o lançamento de seu novo livro “22 devaneios de um poeta à deriva” já marcado para o próximo dia 9 de abril, no Sebo Baratos da Ribeiro, em Copacabana, Bodão responde com poesia e se diz exagerado em tudo. Ou melhor, em quase tudo: “Eu sempre fui um cara de excessos. Pra beber, pra fumar, pra comer, pra foder, pra porra toda. Menos pra trabalhar e estudar, nisso eu sou bem controlado…”, explica.

Com vocês o nosso ser complexo #6, um poeta à deriva, mas que sabe seu rumo.

_Você é um sujeito das redes sociais. Isso não atrapalha a vida fora delas?
Talvez atrapalhasse se houvesse realmente uma vida fora delas, eu diria. Eu vejo as redes sociais como mais uma dimensão da vida, virtual, mas não menos inserida, menos parte dela. Pelo contrário, eu sou um cara extremamente comunicativo, muitas vezes mais tagarela do que eu queria e esses espaços virtuais são, nada mais, nada menos, do que possibilidades de intensificar esse meu impulso de conversar e falar com as pessoas, mantendo-me conectado com elas.

Tem a coisa da superexposição, mas, enfim, não ajo nelas tão diferente do que faço normalmente, no dia a dia. Sou, como disse, tagarela, boca aberta, a exposição da minha vida sempre foi intensa, de minha parte mesmo. Lembro inclusive que muitos amigos por diversas vezes vinham me advertir de que eu me exponho demais, que não devia falar isso ou aquilo, que não é bom para minha imagem, meu lado profissional e tal. Bom, tal como nunca soube gerenciar isso bem na minha vida, isso vai acontecer também no facebook, nos blogs, em tudo quanto é canto. Falador passa mal, rapaz, mas é isso aí mesmo, fazer o quê, faz parte.

O pior mesmo é quando a coisa vai mais além do que já é excessivo, geralmente quando ficava bebendo de madrugada, principalmente… Aí, fodeu, sai tudo mesmo. E era sempre uma correria de manhã para remover as postagens antes que as pessoas lessem…

O que tenho que controlar um pouco é a mania de escrever poesias direto no facebook. Não por divulgar precocemente um poema. Pelo contrário, gosto disso. Além disso, adoro que meus textos e poemas sejam curtidos, comentados e compartilhados. Sou vaidoso e a resposta quase imediata das pessoas me agrada. O problema é que eu posto e não guardo, muitas vezes, o que escrevi, o que me faz perder alguns poemas. Mas estou dando um jeito nisso.

No mais, é tanta coisa que pode ser dita que prefiro responder com um poema que postei outro dia desses:

facebook
qual panopticon do fake
holly motors virtual
palco
ágora
pancake
capital e exposição
é controle
é putaria
que se estende em meu colchão
é tortura
é orgia
é trabalho
é diversãoé debate
verborragia
é invento e repetição
extensão do dia a dia
é cansaço
indignação

moralismos disfarçados
alegria de HD
onde surgem amizades
e mandamos se fuder

é um vício
é morcegada
é fuga e obsessão

é entrega
é potência
é a vida
é um vão

patente de um filho da puta
com cara de babaca
que enche o bolso de milhão

rede que nos prende e solta
oculta e remove:
é espelho e é ilusão

compartilha
comenta e ocupa
a vida
a orgia
e a solidão

e é por isso que eu lhe digo
nesse momento de pura explosão
o que sinto tão sincero
do fundo do meu coração:

facebook eu te amo!
só que não.

 

_O que seria um “poeta de calçada”? Você se vê assim?
Essa é uma definição temporária, mas nem por isso menos verdadeira, da minha poesia. Aliás, menos da poesia em si, suas imagens e reflexões, e mais do seu estado de espírito e do cenário habitual das criações e invenções. É, além disso, uma alusão e homenagem ao João Nogueira, poeta do samba e da vida que muito admiro.

Eu amo a rua, isso é fato. Mesmo quando estou em casa, a maior parte do tempo estarei na janela, você pode ter certeza. Adoro caminhar a esmo, perambular sem rumo certo, ver o que acontece, no que vai dar. Ver as modas, como minha avó costuma dizer. Parar num botequim e ficar ali vendo o movimento, o vai e vem das pessoas, os tipos do lugar, as conversas, as músicas, o jeito de andar, de se vestir, o clima do local.

E ainda que não seja o mote principal nos conteúdos explorados pelos meus versos, essa profusão de sentidos que a rua nos oferece está presente nos meus devaneios e nos poemas que derivam dessa perambulação. A rua é o palco do diverso, e essas vozes todas favorecem a minha criação que, penso, do contrário seria demasiadamente triste, tal como eu fico triste quando enquadrado em quatro paredes por muito tempo.

Eu até sou chegado a derramar meus versos pelas ruas, mas eu diria que, quando assim me defini, o que mais influenciou foi esse prazer de vivenciar a rua, o cotidiano da cidade nas suas veias mais sórdidas e artérias mais iluminadas! Enfim, as possibilidades e caminhos abertos pela endorfina das caminhadas, pelo contato ainda que apenas visual com as pessoas, pelas conversas, pelos encontros, pelas perspectivas que são abertas e que vem para arejar o pensamento e disparar a poesia.

 

_Seu novo livro tem o 22 no título. É só por conta dos 22 poemas da primeira parte?
É e é mais, né. Tem uma jogada aí, até bem escancarada, com o número 22 que está ligado a figura do louco, do maluco de carteirinha, uma figura que sempre esteve, em certa medida, vinculada a mim. Principalmente por conta da minha relação com as drogas e com os excessos de modo geral. Eu sempre fui um cara de excessos. Pra beber, pra fumar, pra comer, pra foder, pra porra toda. Menos pra trabalhar e estudar, nisso eu sou bem controlado…

 

UM LIVRO
É cliché, mas é foda! E em inglês, fica ainda mais bonito:

“the only people for me are the mad ones, the ones who are mad to live, mad to talk, mad to be saved, desirous of everything at the same time, the ones that never yawn or say a commonplace thing, but burn, burn, burn like fabulous yellow roman candles exploding like spiders across the stars and in the middle you see the blue centerlight pop and everybody goes ‘Awww!'”

On the Road
Jack Kerouac

Agora, por exemplo, quando entro numa de parar de beber tem que ser uma medida radical, nem um gole, sem essa de abrir uma exceção em uma ocasião especial. Porra nenhuma, é tipo lei seca mesmo, tem que ser assim. Até porque se eu der um gole, eu sei muito bem onde isso vai parar. Ou não vai parar, melhor dizendo…

E pensando bem, por outro lado, se você for ver mesmo, eu nem sou tão louco assim. Sem álcool, eu sou um cara totalmente tranquilo, equilibrado, organizado, na minha. O mundo é que é muito careta mesmo.

 

_A gente sabe que você já trabalhou em hospital psiquiátrico e hoje é pesquisador numa ONG que trabalha com Direitos Humanos. A poesia tem alguma relação com seu trabalho?
Do mesmo jeito que a rua influencia meus versos. Conhecer as pessoas, suas histórias de vida, outras perspectivas, a própria questão da loucura… Conhecer todo sofrimento que envolve a loucura quando é vivenciada dessa forma, sem romantismo. E mais, já com algum lirismo, perceber na loucura uma crítica encarnada do mundo me pôs em confronto com uma série de verdades estabelecidas. Ninguém sai ileso de determinadas experiências de vida. Nesse sentido é que a minha poesia pode ter alguma relação com meu trabalho, por via indireta, como reflexo quase inconsciente. De modo geral, eu odeio a intencionalidade militante na poesia. Logo, isso não vai aparecer nunca de uma forma direta, panfletária.

 

_O que acontece quando sai Rodrigo e entra Bodão?
Não lembro… O que aconteceu?
Eu? Sério?
Hum, puta que pariu, que merda, hein…
Hehehe

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